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Palpites de Mangabeira têm aval do presidente

Ministro entrevistou integrantes de todos os ministérios

Por João Domingos e BRASÍLIA
Atualização:

Os ministros que estiverem descontentes com as investidas de Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) sobre o trabalho de suas pastas, ou que sentirem seu espaço invadido por programas comandados pelo professor da Universidade Harvard, terão pouco a fazer a não ser reclamar ao vento. A ordem para que Mangabeira encoste neles, peça informações e dê palpites é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi comunicada numa reunião ministerial no ano passado. Lula acha que o método está dando certo, visto que tem agitado os ministros e seus ministérios, mesmo que à custa de crises internas. E elas têm aparecido constantemente. Na semana passada, Mangabeira sugeriu mudanças no Bolsa-Família, para abrir a janela de saída aos que aumentarem a renda. Já andou também pelas áreas de Relações Exteriores, Meio Ambiente, Reforma Agrária, Agricultura, Educação, Integração Nacional e Defesa. Tem a incumbência de fazer projetos estratégicos. Nessa missão, vai continuar a onda de agitações. Um dos principais motivos de brigas internas no governo é o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que envolve interesses de meia dúzia de ministérios e está entregue a Mangabeira. A solução encontrada para a regularização das terras públicas da Amazônia Legal tem conturbado a Esplanada. Os ministérios do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Agrário reagiram imediatamente à proposta de Mangabeira de criar uma agência executiva para tocar o programa. Mangabeira, em compensação, conseguiu tirar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) do processo. Ficou decidido que, para facilitar a regularização fundiária, será enviado ao Congresso um projeto de lei que modificará outras nove leis agrárias, o que deverá possibilitar a situação dos posseiros na região. Logo que Mangabeira entrou no governo, suas participações andaram um tempo pela linha do folclórico. Por algumas razões: ele enfrenta resistências no PT; seu sotaque era por demais norte-americano; e Lula o convidou para atender a um pedido pessoal do vice José Alencar. Nem gabinete ele tinha. Mas, em poucos meses, o professor caiu nas graças do presidente. Suas longas argumentações, sempre com bases lógicas e calcaldas em correntes filosóficas, matemáticas e econômicas, encantaram Lula. Nesse contexto, Mangabeira ganhou um gabinete muito maior do que o da maioria dos colegas. E num lugar nobre, o oitavo andar do Comando do Exército. É a primeira vez depois de 1964 que um ministro civil ocupa a sala onde mandaram e desmandaram, entre outros, Orlando Geisel, Sylvio Frota, Walter Pires e Leonidas Pires Gonçalves. "Presidente, a Amazônia não é só a nossa grande fronteira da geografia; é a fronteira da nossa imaginação", disse o ministro a Lula, no ano passado. E discorreu sobre a forma como acha que a Amazônia deve ser desenvolvida, com o fim da ação predatória, mas com desenvolvimento sustentável. Lula o nomeou imediatamente coordenador do PAS. Com isso, veio a primeira crise. Já desgastada por causa da recusa em conceder licenças para as usinas do Rio Madeira, a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não suportou a perda do PAS para Mangabeira, de quem discordava frontalmente. Pediu demissão no dia 13 de maio. Com o aval de Lula, Mangabeira começou a percorrer todos os ministérios para saber o que eles vinham fazendo. Entrevistou um a um. Depois, passou para o segundo escalão. "Conheci o governo federal todo. E comecei a conversar com todos sobre quais as iniciativas nevrálgicas e estratégicas que surtiriam efeito imediato e encaixariam com a agenda existente do governo, mas que também tivessem o sentido de prenunciar, como desejado, a mudança do ideário do desenvolvimento com base na ampliação das oportunidades", relatou Mangabeira ao Estado. O ministro sabe que, por baixo do pano, falam mal dele. Mas não quis saber de nomes. "Os mal-entendidos, em alguns casos falsificações de minhas ideias, incomodariam qualquer um, mas são um elemento pequeno em comparação com a imensa generosidade e entusiasmo com que as ideias são recebidas", afirmou Mangabeira. Como exemplo de generosidade, Mangabeira cita a do próprio presidente Lula, que o convidou para seu ministério mesmo depois de ele ter escrito, em 2005, que o governo do PT era "o mais corrupto da história".

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