Países islâmicos esvaziam votação sobre homossexualismo na ONU

Por Agencia Estado
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Utilizando-se de manobras legais, procedimentais e até religiosas, os países islâmicos conseguiram impedir nesta sexta-feira que a ONU votasse uma proposta feita pelo Brasil para que fosse considerada a discriminação sofrida por homossexuais. Diante da oposição de vários governos, o Itamaraty terá que esperar até 2004 para voltar a falar no assunto. A proposta brasileira pedia que todos os países garantissem os direitos à vida, à liberdade e à segurança das pessoas, seja qual for sua opção sexual. O Brasil ainda pedia que ninguém fosse torturado por suas escolhas sexuais e que as leis dos países protegessem a todos os cidadãos. Mas delegações como a do Paquistão preferiram atacar a proposta do Brasil, alegando que se a resolução fosse aceita pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, isso representaria que "valores" estariam sendo impostos sobre alguns países. "Não sei por que é que o Brasil insiste em trazer esse tema para a ONU. Essa resolução fala sobre o sistema de valores das sociedades", afirmou o representante paquistanês na ONU. Dias antes, o país asiático havia enviado uma carta à todos os membros da ONU afirmando que o Brasil estava insultando o islamismo ao propor que o tema dos homossexuais fosse tratado na ONU. Durante dois dias, os países islâmicos levantaram questões jurídicas e até alegaram que não poderiam estar presentes às reuniões, porque deveriam parar seus trabalhos para as orações de sexta-feira. Com isso, a presidência da Comissão de Direitos Humanos foi obrigada a encerrar o debate sobre o tema e pedir que o Brasil reapresentasse a resolução em 2004. "Não vamos desistir. As reações que observamos nesta reunião mostrou que o tema é relevante e que deve ser considerado", afirmou o embaixador do Brasil na ONU, Luiz Felipe Seixas Correa, que garante que o tema estará na agenda da Comissão de Direitos Humanos no ano que vem. Segundo estudos da ONU, entre 10% e 14% da população mundial é composta por homossexuais, grupo que na avaliação do Brasil não pode ser ignorado pela comunidade internacional.

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