Paes recorre a tucanos para montar equipe

Peemedebista revê discurso da campanha e indica nomes do PSDB e de ex-colaboradores de Maia

Por Alexandre Rodrigues
Atualização:

Eleito prefeito do Rio pelo PMDB do governador Sérgio Cabral, com a bênção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o apoio de partidos de esquerda, Eduardo Paes monta sua futura equipe com nomes ligados ao PSDB e ex-colaboradores do atual prefeito Cesar Maia, filiado ao DEM. Após a eleição, o primeiro nome que Paes anunciou foi o de um tucano. Na lista do futuro secretariado, aparecem ainda dois ex-ministros do governo de Fernando Henrique Cardoso. Paes iniciou a carreira política com Maia e deixou o PSDB há pouco mais de um ano. Mas venceu o deputado Fernando Gabeira (PV), no segundo turno, com um discurso anti-tucano, de oposição a Maia e adesão a Lula. Com isso atraiu o apoio de partidos como PT, PC do B, PDT e PSB. Na montagem do secretariado, Paes procurou acomodar todos os aliados, com uma lista de nomes bastante heterogênea. Chama a atenção, porém, a presença de ícones do ideário tucano, como a ex-ministra da Administração de Fernando Henrique, Cláudia Costin. Ex-secretária de Cultura do governo de Geraldo Alckmin em São Paulo, Cláudia cuidará da Educação no governo de Paes. A qualificação de ex-ministro de FHC também figura no currículo de Paulo Jobim, indicado pelo senador Francisco Dornelles (PP) para a Administração. Futuro secretário da Casa Civil, o deputado estadual tucano Pedro Paulo Carvalho foi o primeiro nome definido pelo prefeito eleito. Antônio Pedro Figueira de Melo, o nomeado mais recente, também vem do ninho tucano. Ele ganha a Secretaria de Turismo poucos meses depois de deixar o PSDB. Eles dividirão a sala de reuniões do novo prefeito com nomes provenientes da esquerda, como Jandira Feghali (PC do B), que assume a Cultura; e o petista Jorge Bittar, que troca a Câmara dos Deputados pela Secretaria de Habitação. Os indicados pelos partidos da base de Lula também terão como colegas ex-integrantes do governo de Maia. Ruy Cezar, principal colaborador do atual prefeito na realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, foi encarregado de cuidar da candidatura do Rio para sede das Olimpíadas de 2016. Quadro técnico, o futuro procurador-geral Fernando Dionísio também fez parte da equipe de Maia, dirigindo a Procuradoria da Dívida Ativa. Embora seja um nome do PMDB, o futuro secretário de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem, repete a trajetória de Paes: começou na política como subprefeito de Maia e chegou a ser eleito vereador pelo antigo PFL. "Há nomes no secretariado que, num governo do PT, não estariam ali jamais, como a Cláudia Costin", comenta Alberto Cantalice, presidente do PT fluminense. "Somos a favor da elevação do papel do Estado e essa turma é pelo Estado mínimo. Mas o governo não é nosso, é do PMDB e do Paes." Ele admite o desconforto, mas não vê no perfil do secretariado a prevalência da lógica tucana nem a a continuidade de Maia: "Quem dá o tom do governo é o prefeito." O presidente do PSDB do Rio, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, também rejeita pontos em comum com Paes. Nega que Cláudia Costin seja um ícone do PSDB e avisa: os tucanos que participarem do governo de Paes terão de se entender com a comissão de ética do partido, que caminha para a oposição. "Quem perde não governa", defende Rocha, que foi vice na chapa de Gabeira. COBRANÇAS Eleito com uma vantagem inferior a 2% sobre Gabeira, o futuro prefeito sabe que logo receberá cobranças pelas promessas de campanha, especialmente nas áreas de saúde e transporte. Em vez de entregar a Saúde para Jandira, militante do tema que o acompanhou nas ruas no segundo turno, Paes escalou o cardiologista Hans Dohmann, técnico de sua cota pessoal. Para a pasta de Transportes, reivindicada pelo PT, preferiu o engenheiro Alexandre Fontes, outro em quem tem confiança pessoal. Até agora, só não contemplou o PRB do senador Marcelo Crivella. Para o cientista político Ricardo Ismael, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), é natural que Paes busque nomes nos partidos onde construiu sua carreira política: "Ele tem uma trajetória, durante a qual conheceu pessoas nas quais confia. Nos quadros técnicos, busca nomes com visibilidade nacional, mas com experiência gerencial testada." Segundo Ismael, a vitória de Paes veio das promessas que fez: "Se não realizar, perde o capital político. Seria um desastre se loteasse áreas como saúde, educação e transportes." Para a historiadora Marly Motta, pesquisadora do Núcleo de Estudos do Rio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o secretariado de Paes dá um sinal de independência aos aliados e até mesmo ao PMDB. "Paes se volta para um perfil de Executivo administrador que se consolidou com Cesar Maia em 1992, mas isso não significa continuidade", analisa.

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