Clínicas de diálise de todo o País ameaçam parar de atender novos pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A estratégia será usada pelo setor para pressionar o governo federal a reajustar os valores pagos pelo SUS pelas diálises. É mais um setor da saúde em crise, com contas que não fecham. Segundo a Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), o SUS paga R$ 102 para cada sessão de diálise. "O custo médio para as clínicas é de R$ 172", diz Washington Luiz Correia, presidente da ABCDT. "Reivindicamos um reajuste emergencial de 50%." Das 530 clínicas de diálise no Brasil, 470 são privadas, e 60, públicas. Entre cifras e valores, os prejudicados são os 55 mil pacientes renais crônicos. Com a insuficiência dos rins, eles dependem de diálise para sobreviver - cada paciente faz no mínimo três sessões por semana. Entidades que representam os pacientes denunciam que a qualidade do tratamento caiu. "Recebemos muitas reclamações sobre a qualidade da diálise", conta o presidente da Associação Pró-renais Crônicos do Brasil, João Carlos Ribeiro Nascimento. "É a vida do paciente que fica ameaçada." O presidente da Federação das Associações de Renais e Transplantados do Brasil (Farbra), Neide Barriguelli, compara o tratamento a uma guerra entre clínicas e pacientes. Ela alerta que as exigências mínimas de qualidade de diálise são desrespeitadas. "E as clínicas querem afrouxá-las ainda mais." Em nome dos altos custos sem a devida remuneração, o setor já estuda diminuir as exigências estipuladas por uma portaria do ano 2000. "Foi um avanço para os pacientes e não aceitaremos mudanças na portaria", afirma Gilson Nascimento da Silva, presidente da Associação dos Renais e Transplantados do Estado do Rio de Janeiro (Adreterj). Conversas informais apontam que, no que depender do ministro da Saúde, Humberto Costa, a portaria não será alterada. As entidades de pacientes apóiam a reivindicação de reajuste para as clínicas desde que elas apresentem suas planilhas de custo. Segundo Correia, o setor concorda em abrir suas planilhas para o Ministério da Saúde. Mas Silva é enfático: "Parar de atender paciente novo pelo SUS é usar a rede contra nós". O secretário de Atenção à Saúde, Jorge Solla, afasta a hipótese de aumento para os procedimentos de hemodiálise. Ele usa como justificativa o gasto que já é feito com esse tipo de atendimento. No ano passado, foram gastos R$ 689.841.057,00 só com hemodiálises. Quando se analisam despesas com a terapia renal substitutiva como um todo, esse total sobe para R$ 800.840.127,00. Segundo a assessoria de imprensa, Solla afirma que não há como haver aumento, diante do orçamento do Ministério da Saúde. Para a pasta este ano foram reservados R$ 30,5 bilhões. No ano passado, a ABCDT também pediu aumento. O argumento de que a alta do dólar influenciava no custo do tratamento na época foi rebatido pelo governo passado, pois nem todos os insumos eram importados.