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Outro líder de garimpeiros é assassinado no PA

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Por Agencia Estado
Atualização:

O líder dos garimpeiros de Serra Pelada, no Pará, José Mendes, 63 anos, foi assassinado na noite de quarta-feira com um tiro de espingarda na cabeça, após sair no quintal da casa onde morava para alimentar seu cachorro. O assassino estava de tocaia, esperando a chegada de Mendes, que minutos antes havia deixado a sede da Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), no centro do povoado de Serra Pelada, em Curionópolis, no sudeste do Pará. O criminoso fugiu, mas familiares da vítima que teriam testemunhado o atentado descreveram as características do pistoleiro para a polícia. O delegado de Parauapebas, Othon Henrique Dias, abriu inquérito e começou a investigar o caso. Ele adiantou já ter um suspeito, mas preferiu não revelar o nome. O corpo do garimpeiro foi autopsiado na tarde desta quinta-feira e entregue à família para o enterro, que deve ocorrer nesta sexta pela manhã. O advogado Jurandir Ferreira de Araújo, amigo da vítima, definiu Mendes como uma pessoa "pacífica e afável". Ele disse ter tomado conhecimento do assassinato no começo da madrugada desta quinta. "A Justiça, o governo do Pará e o governo federal são os maiores responsáveis por tudo o que está acontecendo em Serra Pelada, porque nada fazem para resolver a situação do garimpo", enfatizou Araujo. E previu que se tudo continuar como está "mais gente ainda vai morrer". O clima é de extrema tensão no garimpo, para onde a Secretaria de Segurança Pública do Estado deslocou de Belém 50 homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar, cerca de 10 policiais civis, além de uma equipe da Divisão de Investigações e Operações Especiais (Dioe). Na noite da última terça-feira, a sede da cooperativa foi arrombada, saqueada e incendiada por um grupo de garimpeiros insatisfeitos com uma decisão judicial que manteve no cargo o atual presidente da Coomigasp, José Amaro Lepos, ligado ao ex-agente do SNI e atual prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió Rodrigues de Moura (PMDB). Um cofre com dinheiro e várias pastas com documentos foram levadas pelos garimpeiros. "Quem fez isso foi o pessoal do grupo do Luiz da Mata. Eles andam armados de revólver e faca pelo povoado de Serra Pelada", acusa Lepos. "O Curió é quem de fato manda na Coomigasp e o Lepos apenas faz o jogo dele", rebate Mata. O líder garimpeiro nesta quarta tinha mais de 20 anos em Serra Pelada e foi um dos primeiros a liderar o movimento para afastar Lepos da cooperativa. O superintendente da Polícia Civil na região, delegado Sílvio Maués, disse à reportagem não ter dúvida de que a morte do sindicalista está ligada à disputa pelo poder dentro da Coomigasp, onde três grupos rivais brigam na Justiça pela posse da entidade. "Eles estão se matando para ficar com a Cooperativa", resumiu o delegado. Este foi o segundo assassinato em menos de três meses de um líder dos garimpeiros da região. Em novembro passado, um pistoleiro matou com cinco tiros, dentro da sede da entidade, o presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Curionópolis, Antônio Clênio Cunha Lemos, 42 anos. Dias antes de morrer, Lemos avisou a várias pessoas da cidade e a seus familiares que se alguma coisa ruim lhe acontecesse a responsabilidade seria de Sebastião Curió, a quem apontava como inimigo. Curió até hoje nega ter mandado matar Lemos. O suposto assassino, Josivaldo Barros, o "Nego Josa", chegou a ser preso no começo de dezembro, porém foi solto pela Justiça por falta de provas. A promotora de Curionópolis, Regina Taveira, que opinou pela revogação da prisão preventiva, se diz ameaçada de morte e já comunicou o fato à Procuradoria-Geral de Justiça, em Belém. Ela acusa policiais da região de estarem protegendo o verdadeiro mandante do assassinato de Lemos. "Minha imagem e minha honra estão sendo atacadas", afirma Regina. Ela alega ter tomado conhecimento de que policiais espalharam um boato sobre o recebimento de R$ 100 mil para que ela e o juiz da comarca mandassem soltar Barros.

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