''Osvaldão'', no fim, chegou a andar descalço

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Por Leonencio Nossa
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Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão, homem de 1,98 de altura, boxeador do Botafogo, engenheiro de minas e galã de filmes em Praga, virou mito nas matas do Araguaia. Sua fama de combatente invencível amedrontou as primeiras tropas enviadas pelo Exército. O que não se sabia é que, antes do cerco final, em 1973, Osvaldão vivia descalço e com roupas esfarrapadas. Relatório manuscrito do oficial Sebastião Curió Rodrigues de Moura, coordenador adjunto da Operação Sucuri, que mapeou a área ocupada pelos guerrilheiros, revela que até líderes estavam em situação precária. O único relatório que se conhecia era o documento datilografado Plano de Informações Sucuri Nº 1, de 19 páginas, com algumas conclusões. O manuscrito que o Estado teve acesso - o Relatório dos Informes Diários, escrito de junho a setembro de 1973 - dá detalhes dia a dia sobre os guerrilheiros. A Operação de Inteligência Sucuri, coordenada por Curió, infiltrou agentes vestidos de barqueiros, sitiantes, donos de bodega e garimpeiros por toda a área ocupada pela guerrilha, no Bico do Papagaio. Após cinco meses, recolheu dados para a volta das Forças Armadas. Em um trecho, Curió relata como um dos infiltrados se aproximou de Osvaldão. "Nosso agente tentou fazer amizade e se propôs a comprar plástico e uma bota para o Osvaldão, pois este está descalço." Disfarçado de comerciante, entregou aos guerrilheiros, famintos, latas de doce e pacotes de fumo, sal e açúcar, além de querosene. O documento descreve os guerrilheiros. Os homens andavam barbudos, cabeludos e com roupas esfarrapadas. As mulheres tinham cabelos curtos e roupas tingidas de preto. Dinalva Oliveira Teixeira, Dina, morta em julho de 1974, usava cabelos curtos, óculos de aros escuros e lentes esverdeadas, botas de borracha e calça e camisa compridas. Carregava uma carabina calibre 32/20 - que teria sido tomada do pistoleiro Pedro Mineiro, aliado do Exército -, revólver calibre 38, uma peixeira e bússola. Mineiro foi executado por um grupo de guerrilheiras em 1973. Paulo Roberto Pereira Márques, o Amaury, também morto em 1974, andava cabeludo e barbudo, de bota de borracha e roupa preta. Uma de suas armas, uma espingarda calibre 26, também tinha pertencido a Mineiro. Usava, ainda, revólver calibre 38 e cinturão com munições e bússola.

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