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Os ''homens meigos'' da ministra

Pré-candidata ao Planalto, em 2010, a chefe da Casa Civil já tem um time com afinidades técnicas e políticas

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e BRASÍLIA
Atualização:

Dona de sobrenome búlgaro, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhou um apelido. Nas viagens que faz com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela é a "Vilma do chefe". Sem saber pronunciar Rousseff, eleitores mais humildes simplificam para "do chefe", numa demonstração de que "Vilma" é vista como a candidata de Lula ao Palácio do Planalto. Mas a mulher que continua sendo o braço direito do presidente já começa a montar um time de sua absoluta confiança para 2010. Da Dilma durona à Vilma popular, a chefe da Casa Civil vestiu o figurino de candidata e, pragmática, aproximou-se dos políticos - do PMDB do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) ao PR de Alfredo Nascimento (Transportes). Mesmo assim, o perfil técnico domina a lista de seus interlocutores preferidos, como Bernardo Figueiredo, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Nelson Hubner, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que não se incomodam nem mesmo de levar pito. "Sou uma mulher dura, cercada por homens meigos", afirma Dilma, irônica, ao rechaçar a fama de durona. "Esse estereótipo é uma coisa fantástica: as mulheres fazem plástica; os homens dormem bem à noite", emenda ela, numa referência às críticas que recebeu por ter passado pelo bisturi. Quem convive de perto com Dilma sabe que ela quer tudo pronto para "ontem". Mas os "meigos" do time aprenderam a driblar seu temperamento. "Vamos falar francamente: o presidente joga muita responsabilidade nas costas da Dilma. Se ela falhar, o governo fica engarrafado. Então, todo mundo tem de se virar", diz o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, um dos mais próximos colaboradores nas fileiras do PT. "DILMINHA" Pouco depois de assumir a Casa Civil, em 2005 - substituindo José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão -, Dilma logo mostrou seu estilo nada político de reclamar. Um dia, passou a mão no telefone e ligou zangada para Paulo Bernardo. A discussão era sobre o Orçamento quando, de repente, veio o cessar fogo: "Tudo bem, Dilminha, fique fria. Vamos resolver isso", respondeu o ministro, desarmando a gerente do governo. "Você não vai parar de me chamar de Dilminha?", perguntou ela. Bernardo riu e o puxão de orelha terminou em amizade. "Em alguns momentos ela é dura, mas num colóquio, nos intervalos das reuniões, é das mais agradáveis: conversa sobre música, cultura grega, livros. Fala até sobre latim." Foi com o ministro do Planejamento que Dilma começou a conjugar o verbo "bombar". "A indústria naval está bombando", disse numa reunião com a bancada parlamentar do Nordeste. Bombando ou não, nenhuma discussão sobre crise financeira é feita sem que Dilma consulte o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. É com ele que a ministra troca figurinha sobre política monetária e fiscal. Barbosa é sempre um nome citado para a pasta da Fazenda em um eventual novo governo petista. PIMENTEL Os homens da confiança de Dilma estão instalados em várias repartições. Para acompanhar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, ela acomodou Afonso Oliveira de Almeida numa secretaria do Planejamento responsável por investimentos estratégicos. E resgatou do limbo o colega Antônio José Alves Jr., defenestrado a pedido do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP). Da turma antiga, que trabalha com ela há quase duas décadas, desde o Rio Grande do Sul, destacam-se Valter Cardeal, diretor de Engenharia da Eletrobrás, e Giles Azevedo, secretário executivo adjunto da Casa Civil, fiel escudeiro que faz um pouco de tudo. O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, que nos anos 60 militou com Dilma no Comando de Libertação Nacional (Colina), é hoje seu braço direito na preparação da campanha. "Ela tem enorme capacidade de se adaptar às situações. Foi assim que sobreviveu à ditadura", diz Pimentel. Uma prova do espírito guerrilheiro de Dilma foi dada há uma semana, quando, na reunião de coordenação política do governo, Lula quis saber quem era o dono do coração dela - a revista Veja disse que o delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, espionara a vida amorosa de Dilma ao investigar o banqueiro Daniel Dantas. "Você não vai contar pra gente?", provocou Lula. "Presidente, se essa pessoa existisse, eu seria a primeira a saber", devolveu ela. Foi uma gargalhada só. FRASE Paulo Bernardo Ministro do Planejamento "Vamos falar francamente: o presidente joga muita responsabilidade nas costas da Dilma. Se ela falhar, o governo fica engarrafado. Então, todo mundo tem de se virar"

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