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Os Bolsonaros e o pior dos regimes

Tuíte de Carlos levanta dúvidas sobre compromisso democrático da familia, que deve carreiras politicas de sucesso à democracia

Por Wilson Tosta
Atualização:

Caro leitor,

Uma frase atribuída a Winston Churchill (1874-1965) aponta a democracia como o pior dos regimes – excetuados todos os outros. Há dias, o Zero Dois Carlos Bolsonaro esqueceu a segunda parte desse aforismo e bramou no Twitter contra as “vias democráticas” como caminho para as mudanças que prega (e não detalhou). Foi injusto.

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Sem a democracia, nem Carlos, nem seus irmãos (o Zero Um, o senador Flávio Bolsonaro, e o Zero Três, deputado Eduardo Bolsonaro), nem seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, teriam chegado aonde estão na vida pública brasileira. Suas carreiras políticas ocorreram sob as instituições democráticas que o vereador, agora licenciado, atacou, e que Bolsonaro, o Velho, jurou defender, na posse. Mais: seus direitos têm sido garantidos pela democracia.

Veja-se o caso do Zero Um. Até algumas semanas, passava aperto com o caso Fabrício Queiroz. Agora, depois que o enrolado ex-assessor reapareceu e a investigação foi suspensa por ordem do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli,

Jair Bolsonaro: Também foi o regime democrático que lhe deu a Presidência da República Foto: Adriano Machado / Reuters

Flávio está tranquilo. A democracia, que garante a independência do Judiciário, protegeu-lhe os direitos – como em tese faz com todos os cidadãos brasileiros. E o agradecido Flávio agora se dedica a – para desgosto dos apoiadores mais radicais, que gostariam de enquadrar juízes – convencer colegas do Senado a retirar apoios à CPI do Lava Toga. Também é da democracia. CPIs e a luta para que sejam ou não instaladas também são parte do regime democrático, gostemos ou não.

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O próprio Bolsonaro pai foi muito beneficiado pela democracia – embora em seus discursos prefira falar genericamente em “liberdade”, palavra perigosa da direita à esquerda. Três décadas atrás, foi a Justiça democrática que o livrou do processo da Operação Beco Sem Saída, no qual era acusado de planejar plantar bombas em quartéis para protestar contra os baixos soldos. Foi ainda a democracia do voto que lhe deu sucessivos mandatos no Legislativo, primeiro municipal, depois federal. Também foi o regime democrático que lhe deu a Presidência da República.

É ainda a incômoda democracia que permite ao Zero Três – o mesmo que disse que, para fechar o Senado, bastariam um cabo e um soldado – ter seu nome submetido ao Senado como possível embaixador em Washington. Paradoxalmente, dá ao Zero Dois o direito de… criticar a própria democracia e criticar … as críticas que recebeu.

Nesse cenário, o tuíte de Carlos, alvo de críticas na Câmara, no Senado e em outras instâncias, inclusive neste editorial do Estado, somou-se ao estoque de declarações e atitudes da família  no governo iniciado em 1 de janeiro passado. A política-espetáculo do presidente e de seus filhos parece precisar criar polêmicas diárias (às vezes, mais de uma por dia), para dominar a cena política e mobilizar seus apoiadores nas redes sociais. 

Esses grupos provocados pela família, porém, às vezes mostram autonomia em relação aos próprios Bolsonaros. Foi o caso da indicação de Augusto Aras, estigmatizado por ser, na visão dessas pessoas, um perigoso “petista”, o que mereceu reação do próprio presidente.

São extremos assim que tornam perigosos ataques à democracia como o de Carlos Bolsonaro. Alguém pode acreditar.

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