Órgão estratégico é ignorado durante crise

A Secretária de Assuntos Estratégicos (SAE) conta com 40 pesquisadores, militares e técnicos, e está subordinada a Bolsonaro

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – O Palácio do Planalto possui um órgão vital em sua estrutura de planejamento, a chamada Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Em um momento de crise aguda como o atual, essa área poderia ser chamada a apoiar a tomada de decisões que possam ter impacto social, ajudando a formular medidas nacionais de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

O almirante Flávio Rocha, quecomanda a Secretaria de Assuntos Estratégicos, assume o cargo e acumula as duas funções. Foto: Divulgação/Ministério da Defesa

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O Estado apurou que, do dia 14 de fevereiro, quando o órgão foi assumido pelo almirante Flávio Augusto Viana Rocha, até a semana passada, não havia nenhuma demanda formal direcionada à secretaria sobre o enfrentamento do coronavírus. O departamento não havia sido consultado para emitir nenhum parecer sobre a crise, por exemplo. Debaixo do almirante, há 40 pesquisadores, militares e técnicos, sem serem requisitados para qualquer tipo de ação.

Como revelou o Estado na quarta-feira, desde o início da crise, o presidente Jair Bolsonaro deu mais poder ao “gabinete do ódio”, núcleo ideológico comandado por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), e que atua no Planalto

A indiferença à SAE não é nova. O órgão já vinha sendo ignorado pela Presidência desde o fim do ano passado, quando ainda era comandada pelo general Maynard Marques de Santa Rosa, que pediu demissão em novembro de 2019. O almirante Rocha é o terceiro secretário de assuntos estratégicos no governo Bolsonaro.

As mudanças promovidas por Bolsonaro fizeram com que a SAE passasse a responder diretamente a ele. Antes, estava ligada à Secretaria-Geral da Presidência. Até 2018, a secretaria contava com 56 profissionais de alto conhecimento técnico. Hoje são 40 funcionários. 

Dentro da SAE, o sentimento de alguns servidores é de que o governo “é um gabinete que não está ouvindo ninguém” e que se baseia em intuições e palpites que retira das redes sociais, sem observar a análise de auxiliares e seus relatórios estratégicos.

Sobre o coronavírus, até a semana passada não havia nenhum pedido ou documento que trace cenários estratégicos, prospectivos, análise de risco ou geoinformação. Bolsonaro continua a criticar medidas de isolamento e a defender que as pessoas retomem suas atividades normais, na contramão do que dizem a Organização Mundial de Saúde (OMS), especialistas e governantes internacionais. 

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Procurada, a SAE informou que “diariamente”, o presidente “demanda informações e pareceres que estão subsidiando os processos de tomada de decisões de alto nível em curso no País” e que, atualmente,“está em andamento um processo de diagnóstico de processos, com o propósito de adequar a estrutura da secretaria”.

Em nota, o órgão informou ainda que o secretário também “participa diariamente de todas as reuniões estratégicas realizadas pelo presidente”. “Contribuindo, portanto, com todos os processos de tomada de decisão do governo.”

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