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Organização cobra medidas para evitar tragédia com covid-19 entre índios isolados

Documento assinado pelo vice-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) relata que já foram confirmadas duas mortes na região

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - Lideranças que atuam na defesa dos índios isolados da terra indígena Vale do Javari, região do Amazonas que concentra o maior número de indígenas sem contato com não índios em todo o mundo, enviaram uma carta de apelo a representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, para que tomem medidas que evitem o alastramento da covid-19 entre seus povos.

No documento assinado pelo vice-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Varney da Silva Tavares Kanamary, os indígenas relatam que já foram confirmadas duas mortes na região, de Yovempa Marubo e Maria Tyawih Kanamary.

A covid-19 chegou e se instalou em um dos lugares mais remotos do Brasil, o Vale do Javari, no Estado do Amazonas, na fronteira com Peru e Colômbia. Foto: União dos Povos Indígenas do Vale do Javari

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"A Univaja teme que uma tragédia ainda maior chegue até os povos isolados e de recente contato (Korubo e Tsohom Djapá) de nossa terra. Infelizmente foi necessário a doença adentrar em nosso território, possivelmente por funcionários da Sesai, para que protocolos mais rígidos de quarentena e testagem fossem adotados pelas equipes do governo", afirma o documento.

Os indígenas relembram que, no início de agosto, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) referendou, por unanimidade, a liminar do ministro Luís Roberto Barroso, que determina que o governo federal adote providências urgentes para evitar o contágio pelo novo coronavírus entre indígenas. Dois dos pedidos da ação, que foi movida pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil(Apib) e acatada pelo STF, dizem respeito exclusivamente à proteção dos povos indígenas isolados e de recente contato. Trata-se da criação de barreiras sanitárias nas terras indígenas com presença desses povos, dentre elas o Vale do Javari, e a criação de uma “sala de situação” para monitoramento e fiscalização.

Os indígenas pedem informações claras e medidas tomadas sobre os atuais protocolos da Funai e Sesai para quarentena e testagem de covid-19 dos seus servidores e profissionais contratados para ingresso na terra indígena e a instauração da sala de situação local, com agenda de reuniões, forma de funcionamento e como se dará a participação do movimento indígena. Eles questionam ainda uma suposta visita que seria feita à região pelo coordenador-geral de índios isolados da Funai, Ricardo Lopes Dias, devido a questões de segurança de saúde.

A reportagem questionou a Funai e a Sesai sobre o assunto, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. A terra indígena Vale do Javari, no Amazonas, é uma das maiores demarcadas do País, com mais de 8 milhões de hectares e que concentra o maior número de registros de povos indígenas isolados em todo o mundo. A região tem sido cada vez mais pressionada pela entrada criminosa de madeireiros, caçadores ilegais e traficantes.

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