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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Oposições deram vexame no domingo e ainda têm de engolir a ironia de Jair Bolsonaro

O grande troféu do presidente circula freneticamente nas redes sociais: as imagens comparando as manifestações a favor, gigantescas, e os atos contrários, minguados, desenxabidos

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Foto do author Eliane Cantanhêde
Atualização:

O grande vitorioso dos atos de protesto do domingo, 12 de setembro, assim como do Dia da Pátria, 7 de setembro, foi o mesmo: o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Além de mobilizar as suas tropas a seu favor, ele é beneficiado pela incapacidade de os comandos adversários se unirem e atraírem as próprias tropas às ruas.

O grande troféu de Bolsonaro circula freneticamente nas redes sociais: as imagens comparando as manifestações a favor, gigantescas, e os atos contrários, minguados, desenxabidos. E ele não se fez de rogado, ao ironizar seus opositores como “dignos de dó”.

O presidente da República, Jair Bolsonaro Foto: Marcos Corrêa / PR

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Doze partidos tentam articular uma frente ampla, um resgate do espírito das Diretas-Já, de 1984, para enfrentar o inimigo comum: Jair Bolsonaro, que traz com ele ameaça de golpe e à harmonia entre os Poderes e ao equilíbrio federativo. O efeito mais visível é na economia. O mais dramático é a miséria crescente.

Os doze partidos tentaram convencer MBL e Vem Pra Rua de desistir do “Fora Lula, Fora Bolsonaro” para focar exclusivamente no “Fora Bolsonaro” e, assim, trazer PT e PSOL para as ruas no último domingo. Os movimentos até topavam, mas os dois partidos não. O acordo ruiu. No Rio, por exemplo, bonecos de Lula e Bolsonaro desfilaram abraçados, igualados como inimigos.

O resultado é um vexame, uma demonstração de inconsequência e incompreensão do momento, que requer responsabilidade para pôr o País em primeiro lugar, deixando, por ora, os interesses de cada um de lado. Mas isso exige grandeza. Quando se olha só para o próprio umbigo, a grandeza evapora.

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MBL e Vem Pra Rua não entendem que, como a extrema-direita aderiu a Bolsonaro, a única chance de encher praças, ruas e avenidas é com o centro e em aliança com as esquerdas, até com o PT e as bandeiras vermelhas. Sem elas, nada feito. As imagens confirmam.

Já o PT e o PSOL estão embevecidos com as pesquisas e a crença de que o ex-presidente Lula já está eleito, sem considerar que pesquisas são retratos do momento, o PT deixou muito rastro e ninguém ganha de véspera. Logo, é hora de mirar o “inimigo comum”. Ou esquerda, centro, direita civilizada e bolsonaristas arrependidos se unem, ou ninguém vai a lugar nenhum.

O centro e a direita oposicionista precisam do PT e da esquerda. A recíproca é verdadeira, pois o PT e a esquerda precisam do centro e da direita oposicionista. Na teoria do trem, todo mundo pula dentro e cada um vai descendo na sua estação. Slogan do Cidadania: “2022 fica para depois”.

Não é pedir demais, mesmo diante do trauma do PT com os movimentos que embalaram o impeachment de Dilma Rousseff, e mesmo com a ojeriza que esses movimentos têm de PT, Lula, mensalão e petrolão. É preciso engolir em seco, focar no que realmente interessa. Todos terão tempo e espaço para brigar e se atracar mais adiante.

O fato é que Bolsonaro mostrou força no 7 de Setembro, recuou diante do estrago que fez nas Bolsas e no dólar e pediu trégua aos caminhoneiros quando entendeu que eles não apenas ameaçavam o abastecimento, a inflação e o PIB, mas o próprio governo dele. E, para coroar tudo isso, se divertiu muito com o fiasco do domingo.

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O presidente, porém, continua sendo alvo da CPI da Covid, dos julgamentos dos decretos das armas e do marco temporal no Supremo; dos recuos do PIB, do ritmo tartaruga na recuperação de empregos e do ritmo coelho da inflação, dos juros, das próprias crises.

Logo, a realidade e o ambiente são favoráveis às oposições, mas elas precisam fazer bom uso. Em política e eleições, não basta a realidade, é preciso compreendê-la e usá-la com estratégia e inteligência. Subestimar adversários não tem nenhuma inteligência. Ao contrário, é de uma burrice desconcertante.

COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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