O PMDB acionou o rolo compressor no Conselho de Ética do Senado e arquivou, de uma só vez, três denúncias e uma representação contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), além de outra representação contra o líder peemedebista Renan Calheiros (AL), por também ter assinado atos secretos durante o período em que comandou o Congresso. Depois de suspender a sessão para que todos pudessem assistir ao discurso de Sarney no plenário, o presidente do conselho, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), cumpriu o script acertado com a cúpula do PMDB e apresentou seus "fundamentos jurídicos" para justificar o parecer contrário à admissibilidade das ações. Com isso, o PMDB foi bem-sucedido em sua estratégia de esvaziar o plenário depois da fala de Sarney, transferindo o debate para o Conselho de Ética. Mas a própria cúpula peemedebista reconhece que a batalha está apenas começando e avalia que os ataques a Sarney e ao partido no plenário não vão cessar. Afinal, são 11 as ações contra Sarney. Até sexta-feira, Duque promete apresentar seu parecer sobre outras quatro representações e denúncias feitas pelo PSOL e pelo PSDB. Aconselhado a cumprir à risca os prazos regimentais, Duque já aguarda o recurso da oposição ao plenário do conselho, que deverá ser apresentado ainda hoje. A oposição já esperava pelo engavetamento das ações e não se dá por vencida. "Vamos reagir e reagir bem", disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). A ameaça de reação não preocupa os governistas, que contam com maioria folgada no plenário do conselho - têm 10 dos 15 votos dos conselheiros. Mas não foi esse cenário confortável que levou a cúpula peemedebista a esvaziar o plenário e levar a discussão das representações ao conselho. O que motivou o PMDB foi a oportunidade de deixar que a TV Senado transmitisse ao vivo apenas o discurso de Sarney, feito no plenário em sua própria defesa. Evitou não só que a fala positiva do presidente fosse editada, como pôs em segundo plano o debate negativo das representações, confinando no conselho os protestos dos adversários que insistiram no afastamento de Sarney. Enquanto isso, o PSDB que abrira guerra contra Sarney na semana passada, apresentando três representações contra ele, amargava a dúvida sobre o tamanho do troco do PMDB, também em forma de representação contra o líder tucano Arthur Virgílio (AM). Até as 19 horas de ontem, a presidente em exercício do PMDB, deputada Iris Araújo (GO), jurava haver entregue ao conselho, desde a véspera, a representação com cinco denúncias contra Virgílio. A secretaria do conselho, no entanto, negava o recebimento oficial de qualquer documento do PMDB, enquanto o líder peemedebista no Senado, Renan Calheiros (AL), sustentava que a reação do partido era certa, tal como ele próprio comunicara aos tucanos. Para justificar o arquivamento das denúncias e representações, Paulo Duque usou o mesmo argumento: alegou que as ações não poderiam ser aceitas porque se baseavam apenas "em uma mera coletânea de recortes ou citações de jornais", sem outros elementos que comprovassem as denúncias.