Oposição promete barrar aumento de tributos para reagir à ''''traição''''

Líderes ameaçam derrubar novo valor da CSLL; governo também teria dificuldade de aprovar outras propostas

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Por Christiane Samarco , Fabio Graner e BRASÍLIA
Atualização:

O pacote com elevação de tributos baixado pelo governo na quarta-feira fez subir a temperatura política e armou o cenário de uma nova crise entre o Palácio do Planalto e a oposição no Congresso, mesmo em pleno recesso parlamentar. Ao mesmo tempo que se dizem traídos pelo governo, que se comprometeu a não baixar nenhuma medida fiscal e tributária quando negociou a aprovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), líderes de oposição já ameaçam retaliar o Planalto. O governo decretou aumento de 0,38 ponto porcentual em todas as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidentes nas operações de crédito e de câmbio e elevou de 9% para 15% a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) do setor financeiro. As mudanças devem render cerca de R$ 10 bilhões e visam a compensar parte da perda de R$ 40 bilhões com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "Faremos o possível para derrotar o aumento da CSLL dos bancos, que será repassada ao usuário e vai travar o crescimento", avisou ontem o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). O aumento da CSLL por medida provisória, precisa ser aprovado pelo Congresso. O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), alerta para o risco de o governo enfrentar novos problemas em votações, por causa do clima de hostilidade criado pelo pacote. A criação da TV pública, por exemplo, está na fila de votações. "Está na hora de sentar para conversar com a oposição, para termos um ano mais tranqüilo", defende Garibaldi. "O governo está preparado. Nós vamos atravessar o deserto", garante o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ele diz não acreditar que a oposição, que tanto criticou o lucro excessivo do sistema financeiro em 2007, comece o ano derrubando o aumento da CSLL para proteger os bancos. "Está dentro do marco democrático a oposição criar dificuldades e anunciar que vai atrapalhar. O que não pode é a oposição querer governar o País da praia." Agripino insiste, porém, que haverá ampla mobilização da opinião pública para derrubar o pacote. "O problema hoje é que o diálogo entre oposição e governo está fraturado pela palavra empenhada e quebrada do presidente Lula", argumenta o líder. "O DEM vai trabalhar duramente para não vender barato ao governo a conquista da sociedade de acabar com a CPMF." A ameaça da oposição de não votar o Orçamento não preocupa o governo. "Vamos ao Congresso explicar as medidas tomadas, que a nosso ver foram modestas, diante da perda repentina de R$ 40 bilhões, mas a decisão sobre o Orçamento será do Congresso", diz Bernardo. Não é sem motivo que o ministro reage com tranqüilidade. Com um volume recorde de restos a pagar - R$ 41 bilhões, o dobro dos investimentos pagos em 2007 -, o governo não precisa do Orçamento para realizar seus investimentos prioritários. Mais: joga para os congressistas a pressa de aprovar o Orçamento - sem ele, não é possível fazer os convênios para execução das emendas parlamentares. E em ano eleitoral novos projetos não podem ser iniciados após 30 de junho. COLABOROU LUCIANA NUNES LEAL Discurso e realidade 14/12/2007 "São coisas da democracia" Lula ao final de visita à Venezuela, antes de voltar ao Brasil 16/12/2007 "Avalio que ele vai ter de me convencer da necessidade disso. Ou seja, ele falou para vocês e agora vai ter de colocar na minha mesa e eu vou decidir se vamos ou não vamos, se precisamos ou não precisamos. Eu quero ver todas as contas" "Não tem nenhuma medida precipitada. Não existe nenhuma razão para que alguém faça alguma loucura de tentar aumentar a carga tributária. O fato é que nós vamos encontrar uma saída" Rebatendo entrevista de Guido Mantega ao ?Estado? sobre substituto da CPMF 17/12/2007 "Acabou o mundo? Não. Agora vamos ter de refletir e ver como arrecadar parte dos recursos do imposto" Em entrevista ao seu programa de rádio, o ?Café com o Presidente? 20/12/2007 "Falei com meus ministros que não quero ouvir a palavra pacote. Prefiro comprar de unidade em unidade. O Brasil já foi vítima de muitos pacotes. Claro que, se precisar, podemos ter algumas medidas administrativas emergenciais. Não mando até fevereiro" "Tenho ojeriza à palavra pacote" "Eu não disse que vai ter ou não vai ter (aumento de imposto). Essa pergunta é mais antiga que Confúcio" Em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto

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