Oposição aproveita descuido da base e cria CPI da Petrobras

Planalto tentou até o último minuto abortar a comissão para investigar a estatal no Senado, mas saiu derrotado

PUBLICIDADE

Foto do author Vera Rosa
Por Eugênia Lopes e Vera Rosa
Atualização:

Um cochilo do governo somado à rebelião de aliados permitiu na última sexta-feira, 15, que a oposição conseguisse pôr de pé o plano de abrir uma CPI para investigar denúncias de irregularidades na Petrobras. Surpreendido com a leitura de requerimentos para criação de duas CPIs contra a estatal no Senado, o Palácio do Planalto desencadeou uma operação para retirar as assinaturas e abafar as investigações. À noite, porém, o saldo indicava a derrota do governo, que não conseguiu abortar as CPIs, uma arma perigosa a disposição da oposição num ano pré-eleitoral.

 

Veja também:

PUBLICIDADE

 

A CPI proposta pelo senador tucano Álvaro Dias (PR) contava originalmente com 32 assinaturas, cinco a mais do que o número necessário: com menos de 27 apoios uma comissão não pode ser instalada. Dias aproveitou o confronto entre a Petrobras e a Receita Federal para pedir a apuração da manobra contábil que rendeu à estatal compensações fiscais de R$ 4 bilhões. De quebra, solicitou investigação na Agência Nacional do Petróleo (ANP).

  

Apenas o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e Aldemir Santana retiraram o apoio à abertura da CPI apresentada pelo tucano. Para barrar as apurações, o Planalto trabalhou para que pelo menos seis senadores - metade deles do DEM - voltassem atrás, mas não obteve sucesso na empreitada.

 

Já o segundo requerimento para investigar a Petrobras foi barrado, segundo informações da Agência Brasil. Número suficiente de assinaturas foi retirado do documento, que obteve o apoio de apenas 24 senadores, número abaixo das 27 necessários para criar a CPI. O pedido é de autoria do senador Romeu Tuma (PTB-SP) e pretendia investigar supostas irregularidades nos contratos de construção das plataformas da Petrobras P-52 e P-54

 

A leitura dos requerimentos das CPIs escancarou a desorganização da bancada governista. Não foi só: senadores do PMDB, descontentes com demissões de afilhados políticos na Infraero, viram ali uma oportunidade para alfinetar o governo e deram sinal verde para a CPI. Preparado sob medida para não passar recibo, o discurso do Planalto atribui ao PSDB a responsabilidade pela traição e por "atrapalhar" os investimentos da Petrobras. "Não houve vacilo nem cochilo", afirmou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB).

Publicidade

 

Na prática, a instalação da CPI só ocorreu após manobra bem sucedida de quatro senadores tucanos que, diante de um plenário vazio, leram requerimento para sua criação na manhã de ontem. A tática foi deflagrada na noite de quinta-feira, logo após bate-boca entre parlamentares do PSDB e do DEM. Na ocasião, Heráclito Fortes (DEM-PI) e Mão Santa (PMDB-PI) recusaram-se a ler o requerimento e a sessão foi abruptamente encerrada pela petista Serys Slhessarenko (MT).

 

Irritados, os senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE), presidente da legenda, e Tasso Jereissati (PSDB-CE) deixaram o plenário e já estavam no aeroporto quando foram alcançados pelo líder do PSDB, Arthur Virgilio Neto (AM), que os convenceu a permanecer em Brasília. Tasso chegou a emprestar seu avião particular para que o segundo-vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), voltasse às pressas de Goiânia para Brasília, com o objetivo de presidir a sessão e ler requerimento. Da base aliada, apenas o senador João Pedro (PT-AM) apareceu ontem pela manhã no plenário.

 

Texto atualizado às 15h16

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.