Operação vai retirar 1,2 mil posseiros de reserva no MA

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Por ERNESTO BATISTA
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A operação de desintrusão da reserva indígena Awa-Guajá teve início esta semana com a entrega de notificações a mais de 1.200 famílias de posseiros e madeireiros que atuam dentro da reserva. Localizada há 359 quilômetros de São Luís, capital no Maranhão, entre os municípios de Centro Novo do Maranhão, Governador Newton Bello, Zé Doca e São João do Caru, a reserva tem cerca de 115 mil hectares e 37% dela já foi devastada. Os Awá-Guajá são considerados os últimos povos indígenas que vivem como caçadores-coletores e são apontados como a tribo de índios mais ameaçada do mundo.Dados de um relatório da ONG Survival International, que defende a preservação dos índios, mostram que a região de selva habitada por essa tribo é o território indígena que mais desmatamento sofreu em 2009. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) cerca de 37% da reserva já foi desmatada. A região habitada pela tribo sofreu com a chegada de colonos e madeireiros que praticam a poda ilegal sem que as autoridades tenham intervindo, apesar de saberem do problema, revela a ONG. Cerca de 360 membros da tribo Awá-Guajá tiveram contato com a civilização, mas existem entre 60 e 100 indígenas que permanecem isolados e que poderiam perder seu último refúgio na selva devido à ação dos colonos. Estes indígenas são índios isolados e são particularmente vulneráveis a ataques e contaminação de doenças contra as quais eles não têm imunidade.A ação do governo brasileiro reúne militares do exército, agentes de campo da Fundação nacional do Índio (Funai), do Ministério do Meio Ambiente, policiais e oficiais de justiça que foram deslocados para a região para cumprir decisão da Justiça Federal no Maranhão, emitida no último dia 16 de dezembro pelo juiz José Carlos do Vale Madeira.Em 2012, chegou a circular informações de que uma criança da etnia havia sido queimada por madeireiros. Na época, a denúncia foi feita pelo Conselho Indianista Missionário (Cimi). Segundo o representante do Cimi na região, Gildebran Rodrigues, a criança teria entre 8 e 9 anos de idade e foi encontrada em um acampamento abandonado da etnia Awa-guajá, único povo indígena isolado que vive no Maranhão."Soubemos do fato pelo o que os Guajajaras nos falaram, mas não conseguimos falar com os Awa-guajá. Acredito que o conflito ocorreu quando os madeireiros entraram em contato com este povo isolado. E como a ação dos madeireiros é cada vez mais intensa, estes índios já começam a ficar sem opção: ou entram em contato ou fogem. O caso deve ter acontecido quando houve conflito num destes contatos", comentou Rodrigues na época.BloqueioEnquanto o governo tenta fazer a operação de desintrusão da terra indígena dos Awá-guajá, os índios de outra etnia, krikati, interditaram a rodovia MA-280 entre os municípios de Montes Altos e Sítio Novo, distante 210 quilômetros de São Luís, para protestar contra a falta de serviços básicos como saúde, educação e transporte. No dia que a manifestação começou - domingo, 05, os índios derrubaram duas torres de alta-tensão da Eletronorte, localizadas na reserva. Esse é o segundo protesto dos indígenas em um período de quatro meses.

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