Planalto vê cerco a Temer e 3ª denúncia mais próxima

Auxiliares do presidente classificam operação como ‘complô’ contra emedebista e avaliam que ação da PF é indicativo de nova acusação formal

Foto do author Marcio Dolzan
Por Carla Araujo , Renan Truffi e Marcio Dolzan
Atualização:

BRASÍLIA E VITÓRIA - Interlocutores do Palácio do Planalto classificaram como “um ato espetaculoso” a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, de autorizar a prisão de amigos próximos do presidente Michel Temer. Dizem haver um “complô” para tentar inviabilizar a candidatura de Temer à reeleição.

Entre os presos na Operação Skala nesta quinta-feira, 29, estão o advogado e ex-assessor do governo José Yunes, com quem Temer jantou na última segunda-feira, 26, em São Paulo, e o coronel reformado da PM João Baptista Lima Filho.

+++ Veja quem são os presos na Operação Skala

Em evento no Planalto, Temer disse também que em 'brevíssimo tempo' deve liberar mais R$ 3 bilhões para a área de saneamento básico Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Deflagrada a pedido da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República, com autorização de Barroso, a operação foi vista nos bastidores como um indicativo de que a procuradora-geral, Raquel Dodge, possa apresentar nova denúncia contra o presidente. Se isso ocorrer, a avaliação no Planalto é que as pretensões eleitorais de Temer seriam minadas. Ele teria novamente que se dedicar a barrar o avanço da investigação na Câmara.

+++ Temer se prepara para enfrentar terceira denúncia da PGR

O presidente planeja entrar no páreo para um novo mandato e pode ter o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) como vice. Meirelles deixará o PSD e se filiará ao MDB no dia 3. Para integrante da cúpula do MDB, um sinal de que a intenção dos mandados de prisão expedidos ontem seria dificultar a consolidação de Temer na disputa eleitoral é a coincidência de datas. Para os emedebistas, não é por acaso que a operação contra amigos de Temer acontece às vésperas do ato de filiação de Meirelles.

Apesar da repercussão negativa para o governo com as prisões, pessoas próximas ao presidente afirmam que o episódio reforça a certeza de que o emedebista precisa ir para o enfrentamento. “Entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de vir a disputar a eleição faz com que novamente dirijam contra nós os canhões da conspiração. O que aconteceu hoje não deixa de ser um reconhecimento de que eu nas minhas afirmações sempre estive certo, que se buscava investigar um assassinato onde não existe cadáver. O Decreto dos Portos não beneficia a Rodrimar”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

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+++Raquel pediu prisão de aliados de Temer

Oficialmente, Marun tentou minimizar a possibilidade de nova denúncia: “Se existe respeito à Constituição Federal neste País, e entendemos que ainda deve existir, o presidente não será denunciado”.

Denúncias

Em 2017, a Câmara barrou as duas denúncias apresentadas pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra Temer – uma por obstrução de Justiça e organização criminosa e a outra por corrupção passiva.

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Nesta quinta, Marun disse que é “DNA do Ministério Público” o viés acusatório, mas que Raquel Dodge age de forma distinta de Janot. “Ela toma uma decisão a pessoas e fatos anteriores ao decreto. É o DNA do Ministério Público, o viés acusatório. Por isso existe Judiciário. E o Judiciário e o MP não podem andar mancomunados. O MP é parte acusatória. Ela atuou e não vejo na doutora Raquel aquele mesmo viés (de Janot) de alguém de dentro do gabinete recebendo dinheiro para orientar gravações”, disse, em referência ao ex-procurador Marcelo Miller, que auxiliou a delação de Joesley Batista.

Marun vem fazendo críticas a Barroso desde fevereiro, quando o ministro autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer, também alvo das investigações sobre o Decreto dos Portos. Marun chegou a anunciar que pretende se licenciar do cargo para apresentar um pedido de impeachment do ministro do STF.

Hartung

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Temer manteve sua agenda em Vitória (ES) nesta quinta, onde inaugurou um aeroporto. Em seu discurso, nenhuma menção à ação da PF. Ele afirmou que seus adversários terão de fazer “malabarismo” se quiserem criticar a sua gestão. O presidente disse ainda que o cargo que ocupa é “dificílimo” e que está “sujeito a bombardeios a todo momento”.

Temer estava ao lado de ministros da área econômica, senadores e deputados capixabas. Mas uma ausência causou surpresa: a do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, emedebista como o presidente. Ele mandou o vice, César Colnago (PSDB), em seu lugar.

A operação da PF foi o que levou Hartung a não ir à cerimônia. “O País amanheceu mais uma vez sobressaltado com fatos políticos preocupantes. Apoio a investigação dessas denúncias com profundidade e, como democrata que sou, também defendo o amplo direito de defesa de todos os citados”, declarou o governador por meio de nota. “Ressalto que os episódios políticos sucessivos e graves dessa natureza têm prejudicado o País e a economia.” À tarde, ao voltar para Brasília, Temer se reuniu com ministros.