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ONU: cresce oferta de droga em área rebelde do Afeganistão

Na Colômbia, o cultivo de coca aumentou 27% em 2007 nas áreas controladas por rebeldes

Por LOUIS CHARBONNEAU
Atualização:

A oferta de drogas sofreu um aumento significativo em regiões do Afeganistão e da Colômbia controladas por rebeldes, ajudando a financiar suas atividades, informou nesta quinta-feira, 26, a Organização das Nações Unidas (ONU). Enquanto o cultivo de papoula para obtenção de ópio ficou estável ou diminuiu em muitas partes do Afeganistão, cinco regiões ao sul do país, controladas por militantes do Taliban, produziram papoula suficiente para dobrar a produção mundial de ópio entre 2005 e 2007, de acordo com Relatório Mundial sobre Drogas 2008, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC). No Brasil, segundo maior mercado de cocaína das Américas (com cerca de 870 mil usuários), o consumo dessa droga aumentou, ao contrário da tendência registrada em "boa parte planeta". A prevalência anual (uso pelo menos uma vez no último ano) passou de 0,4 por cento da população entre 12 e 65 anos em 2001, para 0,7 em 2005, segundo dados do governo. Na Colômbia, o cultivo de coca aumentou 27 por cento em 2007, apesar de a plantação da folha de coca e a produção de cocaína estarem concentradas em 10 dos 195 municípios do país, acrescentou o UNODC. "Na Colômbia, assim como no Afeganistão, as regiões onde a maior parte da coca é cultivada estão sob controle de insurgentes", disse Antonio Maria Costa, diretor-executivo do UNODC, em comunicado. "No futuro, nós precisamos ser ainda mais pró-ativos", acrescentou. Sobre o Brasil, o relatório mostrou ainda aumento de atividades de grupos ligados ao tráfico de cocaína na Região Sudeste, "o que pode indicar que há mais cocaína disponível nessas áreas". Segundo o documento, Sudeste e Sul são as áreas do país mais afetadas pelo consumo dessa droga. O Afeganistão foi novamente o maior produtor mundial de heroína no ano passado, enquanto a Colômbia foi o principal produtor de cocaína. O documento mostrou que, apesar do aumento importante no cultivo de coca na Colômbia, a produção de cocaína no país não teve alteração em 2007, devido aos rendimentos mais baixos do plantio. Isso aconteceu porque os plantadores foram obrigados a plantar a folha de coca em regiões menores e mais remotas para não serem descobertos em ações de repressão do governo, cada vez mais intensas. "Nos últimos anos, o governo colombiano destruiu as plantações de coca em larga escala através de uma grande erradicação aérea", disse Costa. "Foi uma campanha de sucesso inquestionável contra os grupos armados e os traficantes de drogas." O cultivo de coca também aumentou na Bolívia e no Peru no ano passado, mas o rendimento do plantio também caiu. A produção mundial de cocaína foi praticamente a mesma em 2007, com 994 toneladas, ante 984 toneladas em 2006. Nova Rota na ÁfricaNo Afeganistão, militantes do Taliban também tiverem lucro com as drogas. A produção mundial de ópio cresceu para 8.870 toneladas no ano passado. O país foi responsável por 92 por cento do fornecimento mundial do principal ingrediente da heroína. Mianmar, o segundo maior produtor de ópio no mundo, também registrou aumento no cultivo de papoula no ano passado. Os traficantes de drogas também encontraram novas rotas de distribuição, especialmente no oeste africano, onde os dados revelaram um aumento na apreensão e uso de cocaína. A região parece ser uma nova rota de venda de cocaína para a Europa, segundo o relatório do UNODC. O mercado norte-americano de cocaína, por outro lado, parece estar se retraindo. O relatório indicou que o número de trabalhadores dos Estados Unidos que tiveram exames positivos para cocaína caiu 19 por cento no ano passado, e 36 por cento desde 1998. O mercado da maconha continua sendo o maior mercado de drogas ilícitas no mundo. O UNODC estima que cerca de 166 milhões de pessoas -- 4 por cento da população mundial entre 15 e 64 anos -- utilizaram a droga em todo o mundo em 2006, ante 16 milhões que consumiram cocaína e 12 milhões que usaram heroína. O documento do UNODC apontou ainda um sucesso geral nas políticas de controle de drogas no último século e na última década. Um exeplo positivo foi a queda de 70 por cento na produção global de ópio desde 1909, apesar de a população ter quadruplicado no mundo. "As estatísticas sobre as drogas mostram que o problema foi dramaticamente reduzido no século passado, e se estabilizou nos últimos dez anos", afirmou Costa.

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