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Ong lança rede de pesquisa para doenças negligenciadas

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma rede mundial de pesquisa, desenvolvimento e distribuição de medicamentos para tratar doenças que atingem milhões de pessoas foi lançada nesta segunda-feira, no Rio. Idealizada pelo grupo Médicos Sem Fronteiras, a Iniciativa de Drogas para Doenças Negligenciadas (INDi) tem como objetivo incentivar e coordenar estudos de malária, mal de Chagas, leishmaniose e doença do sono, as chamadas doenças descuidadas. Todas têm em comum duas características: atingem populações de países pobres, que não têm acesso a medicamentos e justamente por isso são consideradas pouco atraentes pela área de pesquisa das indústrias farmacêuticas. Uma rápida análise da produção e investimento da iniciativa privada nessa área é suficiente para mostrar a dimensão do problema. Dos US$ 60 a US$ 70 milhões investidos no ano passado no mercado farmacêutico, menos de 0,001% foi gasto para desenvolvimento de novos tratamentos para doenças negligenciadas. Durante o lançamento da INDi, nesta segunda, algumas linhas básicas de atuação já foram apresentadas. Nos primeiros anos, a organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras vai doar anualmente para a iniciativa cerca de U$ 20 milhões. A quantia será usada para a compra de insumos, serviços e despesas no desenvolvimento do medicamento. As doenças eleitas como prioridade são malária, leishmaniose, doença de Chagas e doença do sono. "Vamos aproveitar a estrutura existente em centros de vários países e desmembrar as várias etapas de pesquisa", informou Michel Lotrowska, representante da campanha de acesso a medicamentos essenciais da Médicos Sem Fronteiras. Assim, por exemplo, um centro fica encarregado de analisar o potencial tóxico de uma droga, outro de fazer um acompanhamento em pacientes, outro, da produção. "Sabemos que em nenhum país subdesenvolvido as instituições governamentais têm condições de produzir sozinha um remédio como esse", afirmou Lotrowska. É por isso que as etapas de produção foram divididas. Três projetos-piloto já foram lançados. Um deles estuda a combinação de duas drogas para tratar malária e tem uma das etapas desenvolvidas na Fundação Oswaldo Cruz. Entre as instituições que devem integrar a rede estão centros da Bélgica, da América Latina, da Ásia e África. Embora a INDi tenha como colaboradores principais as instituições públicas, a participação da iniciativa privada também não está descartada. De acordo com Lotrowska, ela poderia ser feita principalmente na forma de preços mais acessíveis de materiais usados na produção dos medicamentos ou nas pesquisas. Entre os pesquisadores reunidos no Rio estava Oscar Bottasso, do Instituto de Imunologia da Universidade Nacional de Rosário, Argentina. Especialista em Doença de Chagas, ele garante que há muito o que aprender sobre a doença, que atinge cerca de 25% da população na América Latina. "Sabemos como cuidar dos problemas agudos, mas há ainda muitas falhas no diagnóstico e no tratamento da doença crônica", comenta. Uma das principais esperanças para o tratamento da forma crônica da doença são os antifúngicos, alguns deles estudados no Brasil. "Com um impulso nos estudos, nas pesquisas, podemos beneficiar um número muito grande de pessoas. E isso tem de ser feito rapidamente."

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