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Offshore foi aberta a pedido do grupo Alstom, diz francês

Courtadon ainda confirma ação do principal suspeito de negociar propina com tucanos, Claudio Mendes

Por Eduardo Reina
Atualização:

Engenheiro francês contratado em 1996 pela Alstom para fazer assistência técnica e comercial para viabilização de contrato com a Eletropaulo, Jean Pierre Courtadon confirma a ação do principal suspeito de negociação de propina entre a multinacional e o governo paulista, o empresário Claudio Luiz Petrechen Mendes. A Alstom é investigada no Brasil, na Suíça e França por suposto pagamento de propina para obter contratos com estatais em São Paulo e no País, negociados por Mendes. Courtadon relata que, durante a sua gestão em uma das empresas do grupo Alstom, a Cegelec, o empresário fazia propostas de assistência comercial, mas nunca teria prestado serviços. "Cheguei a conhecê-lo no período em que ocupava a função de executivo da Cegelec, até 1996, e estava propondo serviços de assistência comercial. Afirmo categoricamente que tanto nas minhas atividades na Cegelec, quanto nas minhas atividades de consultor, jamais solicitei qualquer serviço e fiz qualquer negócio com este senhor." O Ministério Público suíço aponta Courtadon como dono da Andros Management, offshore com conta em Genebra e sede nas Bahamas. A Andros recebeu, mostram os suíços, o equivalente a R$ 565 mil, ou 1,4 milhões de francos franceses, para pagamento de serviços de consultoria. O valor é compatível com o citado pelo engenheiro como seus honorários. "Meu contrato estipulava honorários de 0,6% sobre o valor do aditivo." Auditores que trabalharam para a comissão bancária federal suíça descobriram documentos que detalham envio ilegal de US$ 31 milhões pela Alstom. O dinheiro teria sido remetido a empresas fantasmas e contas em bancos na Suíça e em Liechtenstein. O destino seriam servidores públicos que negociaram com funcionários da multinacional no Brasil, na Venezuela, em Cingapura e na Indonésia. ANDROS Courtadon foi contratado pela Cegelec França no início de 1983, como vice-presidente comercial, onde ficou até maio de 1996. Quando deixou a empresa, recebeu pedido para apresentar uma estrutura jurídica terceirizada para acompanhar contratos no Brasil. "Portanto, foi criada em Genebra, a meu pedido, a empresa Andros Management", contou, ao insistir que sempre trabalhou com a Cegelec como empregado ou como consultor. "Lembro que a Cegelec foi incorporada pela Alstom em 1999, ou seja, três anos após a minha saída." Apesar de seu nome aparecer em documentos apreendidos pela Justiça suíça, mostrando suposto envolvimento no esquema de suborno, Courtadon nega qualquer relação com o pagamento de propina e com a "remuneração" para políticos do PSDB. "Infelizmente não pude ainda ter acesso a esses documentos, nem sei mesmo qual o conteúdo deles. Gostaria muito de ter acesso para entender como e por que meu nome aparece nesses documentos." Os papéis mostram que a multinacional pagaria propina no valor de 7,5% do contrato. Ele alega que efetivamente prestou serviços para a Cegelec. "Esse contrato de consultoria foi uma verdadeira prestação de serviço, pois eu tinha as capacidades técnicas como engenheiro formado em eletricidade e mecânica. E, além disso, tinha nesta época um bom conhecimento do aditivo 10. Durante os dois anos que durou a minha consultoria, organizei inúmeras reuniões com as diretorias técnicas, jurídica, suprimentos e financeira da Eletropaulo, visando a colocação em vigor deste aditivo." O aditivo 10 foi feito ao contrato Gisel, assinado entre a Cegelec e a Eletropaulo em 1983. O reajuste foi assinado em 1990 e custou cerca de 300 milhões de francos franceses, ou R$ 7 milhões, em valores atualizados.

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