Odebrecht entra com novo recurso na Suíça para impedir uso de extratos pela Lava Jato

Construtora quer frear cooperação entre os ministérios públicos suíço e brasileiro; empresa é suspeita de usar contas e empresas offshores no país para pagar propinas no Brasil

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:

GENEBRA - Advogados contratados pela empresa Norberto Odebrecht entraram com um recurso na Justiça suíça para tentar impedir que extratos bancários de empresas e contas na Suíça controladas pela construtora possam ser usadas pelo juiz Sérgio Moro no Brasil ou pela Operação Lava Jato.

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O recurso tem como objetivo frear a cooperação entre os Ministérios Públicos da Suíça e do Brasil na transmissão de documentos. A medida para bloquear o uso dos documentos foi confirmada oficialmente ao Estado pela procuradoria suíça. 

Em meados do ano passado, a Odebrecht passou a ser investigada por Berna, sob a suspeita de ter usado contas e empresas offshores no país europeu para pagar propinas no Brasil. Contas foram bloqueadas, e o Ministério Público iniciou a transmissão de dados ao Brasil. O Estado revelou em outubro de 2015 que a Odebrecht havia contratado advogados na Suíça para tentar bloquear o envio dos documentos

Em agosto, esses advogados questionaram o próprio Departamento de Justiça da Suíça, argumentando que o envio ao Brasil seria uma medida desproporcional por parte dos suíços e que as autoridades brasileiras não teriam apresentado provas suficientes que justificassem a cooperação entre os dois países. A cooperação, porém, foi adiante.

A empreiteira apresentou um primeiro recurso diante do Tribunal Penal Federal da Suíça que considerou que, no final de janeiro, o MP errou ao enviar os documentos e extratos bancários ao Brasil sem dar a chance para que os suspeitos envolvidos no caso pudessem ter feito um recurso para impedir a entrega dos dados.

Marcelo Odebrecht na CPI da Petrobrás em 2015 Foto: RODRIGO FÉLIX LEAL | PAGOS

A decisão não exigia que a cooperação fosse suspensa e nem que os documentos já enviados fossem devolvidos. Mas solicitava que o processo fosse revisto. No dia 29 de fevereiro, depois de refazer o trâmite legal, a decisão do MP foi a de manter a transmissão dos documentos bancários ao Brasil. " No último dia de fevereiro, o escritório do Procurador-Geral emitiu a decisão final e ordenou a transmissão dos documentos nesse contexto ", indicou nesta segunda-feira, 25, o MP suíço em nota ao Estado

Mas o caso foi reaberto graças a um recurso. "Fomos informados que, depois da notificação da decisão final, as partes envolvidas submeteram um recurso à Corte de Apelação do Tribunal Penal Federal ", afirmou a procuradoria suíça. " O processo ainda está em andamento ", completou o MP, que indicou não poder dar detalhes por enquanto do caso. 

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Extratos. Para os investigadores, os extratos das contas movimentadas pela Odebrecht podem ser consideradas como fundamentais para entender quem foram os beneficiados pelas propinas. Pelos extratos, pagamentos foram identificados para ex-dirigentes da Petrobrás.

Juntas, as offshore ligadas à Odebrecht - Smith & Nash, Golac, Sherkson e Havinsur - teriam feito pagamentos de US$ 168 milhões entre 2006 a junho de 2014. Desse total, US$ 15 milhões foram para contas dos ex-diretores da Petrobrás.

Mas a investigação na Suíça já indicou que a Odebrecht mais que dobrou o volume de dinheiro movimentado a partir de 2012 em contas secretas no país controladas por empresas offshore. 

Entre 2008 e 2012, US$ 42 milhões foram movimentados por três empresas offshore com ligações com a Odebrecht na Suíça. Os nomes das empresas não foram revelados. Entre 2012 e julho de 2014, o volume movimentado chegou a "pelo menos" US$ 96 milhões, segundo documentos do Tribunal Superior de Justiça de 21 de janeiro de 2016.

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No documento, os suíços apontam suspeitas de que Odebrecht foi favorecida por "contratos superfaturados". Segundo o texto, ex-diretores da Petrobrás indicaram que "aceitaram da empresa de construção brasileira Odebrecht propinas para garantir projetos superfaturados". "Como essas propinas eram lidadas ainda é algo que não está claro", diz o documento suíço.

O foco dos investigadores de Berna é o destino do restante do dinheiro que não acabou nas contas do ex-diretores da Petrobrás. No texto, os suíços reforçam que a empresa está sob investigação por "pagamento de propinas para influenciar políticos e executivos para alocar projetos em seu benefício".

Contactada, a Odebrecht afirmou por meio de sua assessoria que não iria se pronunciar sobre a informação prestada pelo MP suíço sobre o recurso. 

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