OAB: reunião de Gurgel com Arruda está 'fora do script'

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Por Leandro Colon
Atualização:

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, afirmou hoje que o encontro secreto entre o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, e o ex-governador José Roberto Arruda, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, não deveria ter ocorrido. "Isso está fora do script. Não pode ser normal. Isso não observa a procedência normal que se deve ter entre o réu e o Ministério Público", disse.Para Ophir, é, no mínimo, "estranho" que Gurgel tenha tido esse encontro sem relatá-lo nos autos do inquérito sobre o "mensalão do DEM" no Distrito Federal. "Na democracia, não se pode ter encontros sigilosos. Não é recomendável", afirmou. "A melhor conduta, num momento desse, não deveria ser essa", ressaltou.Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta sexta-feira revelou que Roberto Gurgel escondeu um encontro secreto que teve com Arruda. A reunião sigilosa entre investigador e investigado, que durou pelo menos uma hora, ocorreu fora da sede da Procuradoria-Geral (PGR) e sem a presença dos advogados de Arruda. O teor da conversa foi o esquema de corrupção no Distrito Federal, mas Gurgel não o relatou nos autos do inquérito conduzido pela subprocuradora Raquel Dodge no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ela, aliás, foi excluída do encontro.A reunião, inusitada dentro de uma investigação deste porte, ocorreu no dia 2 de setembro de 2010, às 8h, no gabinete do procurador Alexandre Camanho, no 11.º andar da Procuradoria Regional, um prédio que fica a cinco quilômetros da sede da PGR, em Brasília, onde trabalham Gurgel e a própria Raquel Dodge. O procurador Alexandre Camanho não tem qualquer ligação com a investigação. Por ser procurador regional, não tem atribuição para cuidar do assunto. Mesmo assim, participou do encontro como intermediário.Na versão apresentada pelo procurador Camanho, Arruda o procurou para intermediar uma conversa com o procurador-geral da República. "O governador manifestou interesse em colaborar com as investigações e pediu para encontrar o procurador Roberto Gurgel. O procurador-geral perguntou onde estariam as provas e os documentos dessa colaboração e agradeceu. Nada além disso", disse.A reportagem indagou Gurgel por que aceitou conversar informalmente com Arruda, já que, segundo o próprio Camanho, não se discutiu a concessão da delação premiada. Gurgel disse, por meio da assessoria, que teve uma conversa "preliminar" com o ex-governador e que entendeu que não era "útil" transformá-la em depoimento. Por isso, afirmou Gurgel, o encontro não está nos autos do inquérito no STJ. Questionado se a procuradora Raquel Dodge foi informada sobre o encontro secreto, Gurgel não respondeu. Disse só que trabalha "em conjunto" com ela.Já Arruda não quis falar sobre o assunto. Seus advogados, que ficaram de fora da reunião, dizem que "desconhecem" o encontro. Até hoje aguarda-se a denúncia à Justiça contra os envolvidos no escândalo, que estourou em 2009 na Operação Caixa de Pandora, com base em depoimentos de Durval Barbosa, delator do esquema. Obrigado a deixar o DEM, Arruda foi cassado e passou dois meses preso.

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