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''''O PT se apequenou. Não somos filhos do Lula''''

Concorrente à presidência do partido, Tatto defende candidatura própria em 2010 e novos critérios para concessões de TV

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Por Vera Rosa
Atualização:

Disposto a desbancar o antigo Campo Majoritário do PT e a acabar com a "passividade" do partido em relação ao governo Lula, o deputado Jilmar Tatto (SP) lançará sua candidatura na terça-feira, em Brasília, com chances de ser o principal desafiante de Ricardo Berzoini (SP) ao comando petista. A eleição está marcada para 2 de dezembro. Sem papas na língua, Tatto diz que "o PT se apequenou" diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tem sido preterido no governo de coalizão. "Não somos filhos do Lula", afirma. "A relação, hoje, não é política: é tumultuada e confusa. Não faz bem para a democracia, nem para o governo nem para o PT." Apoiado pela ministra do Turismo, Marta Suplicy, e pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), Tatto garante que "não existe a possibilidade" de o PT arquivar a candidatura própria à sucessão de Lula, em 2010. Seu nome preferido, claro, é Marta, para qualquer disputa: prefeitura, governo ou Palácio do Planalto. Terceiro-vice-presidente do PT, o deputado também faz coro com petistas na defesa de "novos critérios" para concessões de TV. Jura, porém, que o governo não seguirá o exemplo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que cassou a licença da emissora RCTV. "Nós não somos chavistas", insiste. Na seara política, Tatto não esconde que o partido tem interesse na cadeira ocupada pelo ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, acusado pela Polícia Federal de participar do esquema conhecido como "mensalão mineiro". E, ao contrário do que Lula recomendou, não sairá em sua defesa. "Mares Guia é problema do governo e do PTB", devolve. Por que o sr. decidiu ser candidato à presidência do PT? Pela necessidade de renovar. O PT tem 27 anos e o núcleo que dirige o partido, o antigo Campo Majoritário, se esgotou. O relacionamento entre a cúpula do PT e o presidente Lula está cada vez mais distante. O partido tem sido preterido no governo de coalizão? Não é que esteja distante. O que se coloca é que o PT é o principal partido do País e não está sendo valorizado. Não queremos nem mais nem menos: nem privilégios nem sermos preteridos. Não somos filhos do Lula. A relação, hoje, não é política. É tumultuada e confusa. Não faz bem para a democracia nem para o governo e nem para o PT. O que é preciso mudar? É preciso uma agenda comum entre o partido e o governo para que possamos colocar de forma transparente as nossas idéias. A gente percebe que isso não está sendo valorizado pelo governo porque o PT se apequenou. Não podemos, ao término de oito anos de mandato, fazer um balanço de que o governo Lula foi conservador. Não queremos ideologizar a relação, mas quem tem de dar a linha política é o PT. O Congresso já discute a sucessão do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros. Se ele renunciar, o PT brigará pelo cargo? O PT tem de dialogar com os aliados e escolher um nome de comum acordo. Se tiver consenso em relação ao Tião Viana (vice-presidente do Senado e filiado ao PT), tudo bem. O importante é que haja um candidato da base e pode ser do PMDB. Não é questão de princípio: é de governabilidade. O presidente Lula pediu aos petistas que saíssem em defesa do articulador político do governo, Walfrido Mares Guia, mas o sr. foi um dos primeiros a ir contra essa orientação. Acha que ele deve entregar o cargo? Mares Guia é um problema do governo e do PTB. A responsabilidade política por quem compõe o governo é do presidente da República, não é do PT. Eu tenho mandato parlamentar, não sou um auxiliar do presidente. Cada partido cuida dos seus pares. Aliados dizem que o PT nunca se conformou em ter perdido a articulação política do governo, que tem enorme apetite por cargos e ciúme de outros partidos da coalizão... Essa é uma área estratégica e, do ponto de vista político, consideramos que deveria ficar com o PT. Se você for verificar, em toda a coordenação política do governo o PT não está em nenhum lugar: nem no Ministério das Relações Institucionais, nem na liderança do governo na Câmara, nem no Senado, nem no Congresso. Só que nos momentos difíceis da vida do governo quem sai em defesa é justamente o PT. Um momento difícil seria agora, com a tentativa de prorrogação da CPMF? É. Muitas vezes eles (os líderes) não defendem o governo de forma enfática. Defender o governo quando tudo está bem é a coisa mais fácil do mundo... O PT não tem candidato natural à sucessão de Lula, em 2010. É possível o partido abrir mão da candidatura à Presidência para apoiar um concorrente da base aliada? Não existe essa possibilidade. O PT vai apresentar um nome para a base aliada. Temos vários quadros: Marta Suplicy, Jaques Wagner, Dilma Rousseff, Tarso Genro, Patrus Ananias... Mas o presidente quer um candidato único da base. A resolução do 3º Congresso do PT, fazendo aceno à coalizão, foi jogo de cena? Não. Lula está certo e não poderia se movimentar de forma diferente. Nós vamos apresentar um nome à coalizão. Vão apresentar para discussão e só aceitam desde que o candidato seja do PT. É isso? Veja, política é um processo de negociação. Se eles (os aliados) conseguirem nos convencer que o candidato apresentado é viável e melhor que o nosso, aí é outra história. O deputado Ciro Gomes (PSB) chegou a dizer, em entrevista ao Estado, que não aceita ser vetado... Não há veto, absolutamente. Nós somos parceiros. Depois do escândalo do mensalão, PT e governo adotaram o discurso de que as mazelas do sistema político decorrem da falta de financiamento público de campanha. Então, por que a reforma política não foi tratada como prioridade? Tentamos, mas a maioria não quis. Foi um erro do governo não ter entrado no debate. Isso favoreceu os que são contrários ao financiamento público. O sr. acha que esse discurso da falta de financiamento público justifica o mensalão? Nada justifica. Mas a relação do financiamento privado para eleger presidentes, governadores, prefeitos e vereadores não ajuda a democracia. O eleito acaba ficando refém de quem o financia. Temos de acabar com isso. O sr. é favorável à revisão das concessões de TVs? Não à revisão. Eu acho que as concessões têm de se dar em outro parâmetro. É preciso democratizá-las, definir novos critérios. Hoje, poucos grupos dominam essa área. O sr. não teme que o PT fique com o carimbo de chavista ao pregar novos critérios para as concessões? Absolutamente. Nós não somos chavistas. Esse fantasma de que nós queremos fechar TVs não existe. Democratizar as comunicações, para o sr., é o quê? É ter uma relação mais transparente no processo de concessões, criar um marco regulatório e envolver a sociedade na questão do conteúdo do que é passado. Temos de nos preocupar com o que queremos para o País, qual o papel dos meios de comunicação do ponto de vista do desenvolvimento cultural, que tipo de programação queremos, como fica a questão regional... Mas isso não é uma interferência muito grande? É uma concessão pública. Essas concessionárias têm de retribuir para a sociedade, no seu conteúdo, programações que tratem da questão cultural, do povo brasileiro, do nosso País. Não se trata de interferir na programação, no jornalismo. Quando o sr. fala em retribuir já dá idéia de uma coisa chapa branca... Mas retribuir para a sociedade, não para o governo. O que nós queremos é democratizar para que (a concessão) saia do controle de poucas famílias e todos possam participar. Hoje, as renovações de concessões são feitas de forma automática. Não tem critério nenhum. É um absurdo o que está acontecendo. O PT só corre o risco de ser chapa branca se perder o contato com o movimento social. Isso, sim, seria a morte do PT.

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