R.A. viveu uma década no Serviço Secreto (SI) do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Esteve infiltrado entre os estudantes no Congresso da União Nacional do Estudantes (UNE), em Ibiúna, que acabou com todos presos em 1968, e nas operações que mataram Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira. Trabalhou na Operação Bandeirantes e com Romeu Tuma.
O que aconteceu naquele dia? Ele (Marighella) chegou e entrou no carro. Quando ele tentou sair, o pessoal que estava mais perto do carro atirou.
Quem matou Marighella? Foi o Tralli (José Carlos Tralli, que usou uma espingarda Wincester calibre 44). O Tralli na verdade se apavorou. O Marighella era um mito. Achavam que estaria com uma baita segurança. O nome dele era tão forte quanto o do Fleury. Ninguém achou que ele ia dar uma moleza de ir sozinho a um ponto.
A ordem era matar Marighella? Acho que não. A intenção não era essa. Ele seria um baita troféu vivo, não morto. O objetivo era “encanar” o homem. Era uma guerra, mas esse não era o objetivo, não, tanto é que o Joaquim Câmara Ferreira (substituto de Marighella, preso e morto sob tortura) foi preso. Dava para prender, mas deu tudo errado.
E quem matou a investigadora Estela Morato? A Estela foi uma baita cagada. Ela estava no Chevrolet Bell Air do Tuma. O Bell Air foi usado de última hora, pois um outro carro quebrou – acho que era um Aero Willys. Todos os carros eram descaracterizados. O problema é que nem todo o pessoal da operação sabia do Bell Air. Aí o dentista (na verdade o protético Friedrich Rohmann, que morreu) furou o bloqueio. E o pessoal atirou. Teve gente que descarregou mais de um pente de metralhadora. Foi fogo amigo, assim como o Tucunduva (delegado Rubens Tucunduva, também ferido). Eu estava lá com meu parceiro, o Celso Cipriani. A Estela trabalhava no SI, como eu. Eu estava a uma quadra de onde o Marighella foi morto. Tinha muita gente lá. Até PMs. Você sabia? Os cães usados (pastores alemães) eram da PM. Uns seis homens da PMs participaram.