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O parto da mais longa das noites

Por Gabriel Manzano Filho
Atualização:

"Baixado o Ato-5, ?partiu-se para a ignorância?. Com o Congresso fechado, a imprensa controlada e a classe média de joelhos pelas travessuras de 1968, o regime bifurcou sua ação política. Um pedaço, predominante e visível, foi trabalhar a construção da ordem ditatorial. Outro, subterrâneo, foi destruir a esquerda." Assim o jornalista Elio Gaspari resumiu, 34 anos depois, o plano de ação da ditadura tão logo o Ato nº 5 foi anunciado ao País. A frase abre um capítulo final de A Ditadura Envergonhada, primeiro dos quatro volumes em que ele disseca todo o período 1964-1977 - desde quando a farda derruba a ordem constituída (o presidente Goulart) até quando essa farda tira do jogo quem rejeitava a reconstrução dessa ordem (o ministro Sílvio Frota). Para montar seu relato, Gaspari escreveu outras três "Ditaduras" - a Escancarada, a Humilhada e a Derrotada, sempre pela Cia. das Letras. Depois delas, os pesquisadores podem buscar outros temas. Um de seus feitos foi ter acesso à fita em que foi gravada a reunião do Conselho de Segurança Nacional, entre 5 da tarde e início da noite daquele 13 de dezembro. Era, simplesmente, o parto dos anos de chumbo. O embrião do que se viu depois - o terror como fonte da lei - está todo naquelas 2 horas e 10 minutos. Nas certezas dos radicais que exibiam "a audácia de um pelotão de fuzilamento" e nas hesitações de um grupo mais brando, que não se dignou, no entanto, a sair da sala. Para quem se interessar, a gravação sobrevive intacta em dois CDs disponíveis no Instituto Moreira Salles, no Rio. A vitória de Costa e Silva, naquela noite, era a senha para a "tigrada" sair do armário. Começava "uma longa noite, que duraria 10 anos e 18 dias".

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