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O pandemônio das respostas do governo à pandemia; leia análise

Em depoimento à CPI da Covid, Wajngarten optou por isentar o presidente Jair Bolsonaro, de quem é próximo desde a campanha eleitoral de 2018

Por Mário Scheffer
Atualização:

“Uma CPI, se sabe como inicia, mas não se sabe como termina”, vaticinou um senador antes da sessão na qual o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, iniciou seu depoimento prometendo “relatar o que vivi”.

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Confidenciou que a infecção por covid-19 lhe deixou sequelas pulmonares, e que também perdeu amigos mortos em função da doença, mas não revelou de onde veio a decisão do governo de abrir mão de campanhas de comunicação para mitigar a transmissão do vírus. Segundo o TCU, a maior parte de R$ 83,6 milhões foi gasta em peças publicitárias para divulgar medidas econômicas.

Campanhas preventivas nacionais e regulares, juntamente com a vacinação em massa, foram determinantes nos países que já retomaram a normalidade. A lógica é simples, pois sem garantir à população acesso a informações corretas e cientificamente válidas, medidas de isolamento não são aceitas, testes de diagnóstico não são realizados, coberturas vacinais podem ser baixas e o vírus continua a prosperar.

O ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten em depoimento na CPI da Covid Foto: Gabriela Biló/Estadão

Sob gestão de Wajngarten, campanhas como “solicite um atendimento precoce” e “o Brasil não pode parar” tinham os claros propósitos de promover o “kit covid” e contrapor prefeitos e governadores que adotaram medidas de isolamento.

Se conseguiu escapulir da pecha de um dos arquitetos do negacionismo desprezível, Wajngarten se enroscou ao omitir, contrariando o que afirmara em entrevista à revista Veja, os meandros de sua atuação como negociador de vacinas em nome do governo.

Fossem quais fossem as motivações – alegou sua preocupação com a demora do Ministério da Saúde na resposta à empresa Pfizer sobre o interesse em comprar vacina – seu ímpeto incidental revela o pandemônio que tomou conta da resposta oficial à pandemia.

Wajngarten optou por isentar Bolsonaro, de quem é próximo desde a campanha eleitoral de 2018.  Os flagelos, em Camus (Albert, autor de A Peste), fazem brotar nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar. A contemplação da morte próxima, para Defoe (Daniel, autor de Diário do Ano da Peste), é capaz de reconciliar homens de bons princípios. Os autores das grandes pestes não imaginaram uma CPI no Brasil.

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*Professor da Faculdade de Medicina da USP

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