O imperador da Copa

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Por Dora Kramer
Atualização:

A contar pelos sinais exteriores de poder, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, é personagem importantíssimo - por que não dizer, fundamental e imprescindível - na ordem das coisas relativas à realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014. Portanto, natural que os seres desprovidos de familiaridade com o tema (cidadãos de segunda, forçoso admitir e se conformar) estranhem o grau de submissão de tudo e de todos a este senhor. Ricardo Teixeira, informam os jornais, briga com Pelé e deixa de fora do anúncio da Copa brasileira nosso maior símbolo mundial, substituindo-o por Romário, cuja distância de Pelé em termos de representação do esporte dispensa apresentações. Teixeira não quer ver negócios obscuros (lavagem de dinheiro) do futebol investigados por uma comissão de inquérito no Congresso e consegue o apoio de governadores de Estado para comandar ações de retirada de assinaturas ao requerimento da CPI na Câmara e no Senado. Mais, consegue a retirada das assinaturas em número e tempo recordes, coisa que nem o presidente da República conseguiu para evitar investigações do Parlamento. Diz num dia que a Fifa ameaça retaliar contra o Brasil se houver CPI, no dia seguinte é desmentido pelo presidente da federação, Joseph Blatter, e ninguém fala nada. Nenhum daqueles governadores presentes à caravana holiday que foi a Zurique acompanhar o anúncio emite um som a respeito. Nem que seja para estranhar a incongruência entre a ameaça e a negativa dela. No lugar disso, mal chegam ao Brasil e começam a atuar em conformidade com os interesses de Ricardo Teixeira, subordinando atos do Parlamento às conveniências de um dirigente. É de se perguntar: o senhor presidente da CBF pretende deles uma blindagem durante os próximos sete anos? Tudo o que acontecer no Brasil relativo à Copa e ao futebol, à organização do campeonato, à fiscalização de gastos, dever ser submisso às vontades e necessidades de Ricardo Teixeira? O lobby dos governadores para a realização de jogos em seus Estados os obriga a se abster de senso crítico? E o País, ficará submetido às mesmas normas? Os primeiros acordes da sinfonia - que do ponto de vista político começou desafinada - indicam que sim. A petulante patriotada do senhor Teixeira, dando-se a arroubos de indignação com uma jornalista canadense que pôs na coletiva o óbvio tema da violência, não causou desconforto na comitiva de excelências. Ao contrário. Quem não calou, aplaudiu. Mas, vai ver as coisas são para ser assim mesmo e quem não priva da intimidade das circunstâncias futebolísticas estranha de bobo que é. Vai ver tudo aconteceu da mesma forma em outros países-sede da Copa. O presidente local do equivalente à CBF comandou governadores, interferiu em ações do Congresso, subtraiu do país a representação de um ídolo por conta de suas idiossincrasias, carregou uma comitiva imensa para afirmar prestígio, deu vexame em cerimônia transmitida ao planeta e todo mundo achou muito normal. Pode ser só uma impressão, mas, pela largada da carruagem daqui até 2014 quem manda no Brasil é o imperador da Copa, Ricardo Teixeira I, coroado em Zurique, rodeado de sua corte: os nossos governadores. Ou, então, não é nada disso. É só coisa de gente que não entende nada e fica achando que futebol é uma coisa, política outra e casos de polícia devem ser investigados. Esteja a Pátria de chuteiras ou não. Preparação Os amigos mais próximos da ministra Dilma Rousseff no PT afirmam peremptoriamente que a ministra não quer ouvir falar de candidaturas a cargos eletivos. Em reuniões palacianas na presença dos marqueteiros do rei, no entanto, já circularam opiniões de que Dilma reúne atributos suficientes para desde já começar a ser preparada para o que der e vier. As negativas da ministra, do Planalto e do partido, talvez guardem relação com recentes declarações do presidente Luiz Inácio da Silva - e também da própria Dilma Rousseff - sobre a inadequação de falar agora o nome de candidatos, pois isso teria o condão de desgastá-los, expondo-os ao sol, à chuva e aos ataques da oposição. Pode ser só uma coincidência, mas nas duas entrevistas em que Lula e Dilma defenderam essa tese, ambos citaram com entusiasmo o nome de Ciro Gomes como um candidato possível para representar o campo governista. Negócios à parte Amigo quase parente de Aécio Neves, correligionário da candidatura presidencial de José Serra, dono das melhores relações dentro do PSDB, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, não pestaneja quando o assunto é sucessão presidencial: "Estou, desde já, firme com o candidato do presidente Lula, seja quem for." E por razões objetivas: "Repasses federais de R$ 4 bilhões e investimentos que somam algo como R$ 50 bilhões no Estado nos próximos três anos."

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