O impacto real da Brazil Conference; leia artigo

8ª edição do evento trouxe importantes discussões sobre o futuro do Brasil e nos lembrou de que é possível debater e divergir dentro dos dispositivos do contraditório e com respeito pleno às diferenças

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Por Luís Alberto Nogueira
Atualização:

Muito se falou na imprensa e nas redes sociais sobre os debates que aconteceram na Brazil Conference 2022, realizada nos dias 9 e 10 de abril passado, em Cambridge, EUA. O já tradicional evento anual organizado pelos alunos brasileiros de Harvard, MIT e outros centros de excelência no exterior – que mais uma vez contou com a parceria do Estadão na transmissão e cobertura dos debates – trouxe à baila importantes discussões sobre o futuro do Brasil e sobre os principais desafios que os múltiplos setores da sociedade irão enfrentar neste ano eleitoral.

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O evento deste ano foi aberto por 10 jovens brasileiros, selecionados dentre milhares de candidatos de todo o País, que compartilharam projetos e histórias de vida que mostram um pouco do desafio, da complexidade e da natureza do “ser brasileiro”. Foram mostradas histórias reais de impacto social, que vão desde o ensino de programação como vetor de mobilidade social na quebrada, em São Paulo, a redes gratuitas de conteúdo educativo modulado por jovens de diversas origens que, hoje, beneficiam milhões de pessoas no nosso País. 

Foram extremamente impactantes as sabatinas feitas aos potenciais presidenciáveis – sem cerimônia ou meias palavras – por acadêmicos, estudantes e jornalistas, no que certamente foi o primeiro grande momento de debate sobre as eleições de 2022. Impactantes foram também as discussões sobre o futuro da Amazônia, a reversão da pobreza e os meios para melhoria na infraestrutura. Não ficaram para trás temas caros aos brasileiros como cultura popular, saúde pública, empreendedorismo, sistema carcerário, tecnologia e inovação, e como o nosso País lida – ou melhor, como poderia lidar – com esses tais temas, à luz do debate transparente e intelectualmente honesto. Ouvimos a sabedoria do Padre Júlio Lancellotti, notório defensor da dignidade humana, clamar por um Estado laico. Disse ele, como o bom católico que é: “Deus não está acima de ninguém, Ele está no meio de nós” – em crítica direta ao atual regime político que governa o Brasil.

O investidor Jorge Paulo Lemann, o cofundador do Tinder, Justin Mateen, e o cofundador da Brex, Henrique Dubugras, que discutiram os desafios do trabalho pós-covid-19 em painel Brazil Conference 2022 Foto: Reprodução

Ano após ano, é comum os temas discutidos dominarem os trending topics brasileiros no Twitter, o que é uma pequena amostra de como as mensagens reverberam na sociedade civil. Todo o conteúdo é transmitido ao vivo e, desde sua criação, o canal da Conferência já teve mais de 1 milhão de visualizações no YouTube, contribuindo para o imaginário coletivo da nossa nação. Serviu também de modelo para incontáveis eventos estudantis que surgiram nos últimos 8 anos, alguns com os quais a conferência colabora e compartilha seus vários erros e acertos. Mostrou-se também uma porta de entrada adicional a instituições de excelência mundo afora para jovens brasileiros, que descobriram que Harvard e MIT, e tantas outras, estavam mais próximas do que se pensava. 

E mais importante do que mandar gente para fora: objetivamente traz gente boa de volta ao país, já que mostra, uma vez por ano, que o país responsável por colocar esses alunos e alunas nas melhores universidades do mundo, precisa de cada um deles para seguir em frente.

A responsabilidade de alto calibre de comandar um evento deste porte, e dessa relevância para o debate público de todo um país, é assumida por jovens estudantes, da graduação ao doutorado, – todos voluntários – preocupados com o futuro da nação e dos jovens brasileiros. São alunos, como Estela, Vinicius, Wellington, Helena, Eduardo, Carolina, Camillo, Júlia e Gabriel, cheios de sonhos, que assumem responsabilidades faraônicas e entregam com louvor. O legado maior desta edição da Brazil Conference foi o de nos lembrar, pela oitava vez, de que é possível debater, divergir e propor soluções dentro dos dispositivos do contraditório e com respeito pleno às diferenças. 

* É ENGENHEIRO PELA PUC-RIO, FOI ALUNO VISITANTE NA UNIVERSIDADE HARVARD E COLABOROU NA ORGANIZAÇÃO DAS PRIMEIRAS EDIÇÕES DA BRAZIL CONFERENCE HARVARD/MIT

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