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O FUTURO DO PT NAS MÃOS DAS ESQUERDAS

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:

O PT chega ao término de 13 anos no poder federal longe da hegemonia que exerceu na esquerda brasileira por quase duas décadas, menor, isolado, acossado por denúncias de corrupção, responsabilizado pela maior crise econômica dos últimos anos e diante de profundas divergências internas que, segundo texto avaliado formalmente pela direção partidária, colocam em “risco a unidade”.

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Em avaliações feitas em caráter reservado, lideranças petistas admitem que a perspectiva de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar ao governo em 2018 é o principal fator de garantia da coesão partidária hoje.

Antes de pensar na volta de Lula ao Planalto – que ainda depende do andamento de ações judiciais –, o PT vai precisar passar por uma grande mudança que inclui, conforme integrantes do partido, uma profunda e pública autocrítica em relação a erros, reformulação da organização interna e admissão de que já não lidera absoluto as forças progressistas do País.

Para alguns líderes petistas, a configuração da comitiva que escoltou a presidente cassada Dilma Rousseff na sessão de segunda-feira do Senado é um indicativo do futuro.

Além de Lula, dirigentes e ex-ministros, estavam presentes Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), João Paulo Rodrigues, do Movimento Sem Terra (MST), e o cantor Chico Buarque, que nos últimos meses funcionou como vetor dos novos coletivos de esquerda – em grande parte agrupados no setor cultural.

“O PT vai compartilhar a liderança de um bloco social e político do País, vai ter de compreender que o debate sobre o PT é o debate de toda a centro-esquerda, superar as fronteiras do partido, atuar mais como uma frente”, disse o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha, ministro nos governos Lula e Dilma.

Para ele, antes de pensar em 2018 ou nas eleições deste ano, o PT precisa se abrir e reforçar vínculos com movimentos que estão fora da política partidária e suas respectivas pautas. “Se entrar de cabeça no processo eleitoral, vai perder a capacidade de protagonizar mudanças”, disse Padilha, da corrente Construindo Um Novo Brasil (CNB).

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Ensaio. Desde 2005, quando eclodiu o mensalão, o PT montou seguidos palcos para essa mudança, mas o processo sempre foi interditado – na maioria das vezes por interesse eleitoral.

Agora o palco deve ser o Encontro Nacional Extraordinário, inicialmente marcado para novembro, mas que pode ser adiado para março de 2017 sob protesto das correntes de esquerda que alegam urgência na mudança. “O ano de 2018 não existirá sem 2016. A democracia só existirá nos próximos anos se ela for conquistada agora”, disse Carlos Árabe, representante da Mensagem ao Partido na Executiva.

Nos últimos meses a Mensagem se articulou com outras quatro correntes minoritárias em aproximadamente 25 dos 51 deputados federais em torno do lema Muda PT. O objetivo é ganhar o poder no partido, hoje sob comando da CNB.

Árabe é autor do texto que fala em “risco à unidade”, mas recusa enfaticamente a possibilidade de o grupo abrir um racha. “Será uma mudança não voltada para a cisão, mas para a mudança de prática”, disse.

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O primeiro tema de embate será o apoio ao plebiscito por novas eleições defendido por Dilma e excluído da última resolução do PT. Segundo Árabe, o partido não pode deixar esfriar a mobilização contra o impeachment, e as “Diretas-Já” podem ser um fator de união.

Exame. Tarso Genro, ex-ministro do governo Lula e da mesma corrente de Árabe, defende a reestruturação do partido e de sua direção. “(O PT tem de) fazer um exame crítico do que aconteceu na sua relação com o governo Dilma e um exame de como setores do PT se deixaram envolver nas práticas tradicionais de financiamento de campanha. Se o PT não fizer isso, vai criar um encobrimento artificial dessa crise e então o PT não vai acabar, mas vai se transformar em um partido tradicional”, disse.

Embora procurem saídas para a crise, os petistas têm noção do tamanho do abismo em que o partido mergulhou. Pesquisa da Fundação Perseu Abramo feita no fim de 2015 mostra que palavras como tristeza, decepção, vergonha, revolta, frustração, desespero e insegurança são usadas para definir a legenda. Nestas eleições, o número de candidatos a prefeito caiu 44% em relação a 2012. O PT é o partido com o maior número de chapas puras, o que indica isolamento.

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