Nunes assume com ‘lista de tarefas’ de Covas e apoio da Câmara

Com relação próxima a João Doria e do presidente da Câmara Municipal, prefeito interino deve manter planos do prefeito licenciado

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Foto do author Pedro  Venceslau
Por Bruno Ribeiro e Pedro Venceslau
Atualização:

O prefeito interino de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), assumiu o mandato nesta segunda-feira, 3, com uma lista de tarefas deixada por Bruno Covas (PSDB) para seu secretariado e com determinação vinda da base governista na Câmara Municipal de tocar os projetos já anunciados pelo prefeito licenciado.

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Nunes tem apoio político do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (DEM), seu aliado há oito anos, e do governador João Doria (PSDB), com quem buscou reconstruir pontes quando as relações entre Prefeitura e Estado se desgastaram, nos dias mais agudos da pandemia do coronavírus.

A equipe montada por Covas para administrar a Prefeitura neste mandato tem, em seu núcleo duro, colegas de partido em que o prefeito afastado confia desde os tempos de juventude. É formado pelos secretários Alexandre Modonezi (Subprefeituras), Orlando de Faria (Habitação), César Azevedo (Urbanismo e Licenciamento), Ricardo Tripoli (Casa Civil) e Rubens Rizek. A eles, e também ao secretário da Saúde, Edson Aparecido, Covas deixou, antes de se afastar, uma determinação de dar prosseguimento a um cronograma interno que previa o término de 270 projetos tidos como fundamentais – eram ações que deveriam ter sido concluídas nos 100 primeiros dias de governo. 

O prefeito interino não faz parte desse núcleo duro, mas sabe da missão repassada e já indicou aos colegas que não pretende fazer nenhuma correção de rumos. Os secretários de Covas pontuam, nos bastidores, que não houve nenhuma determinação do prefeito para tentar submergir Nunes ou atuar para que ele tenha uma gestão apagada nesse período de afastamento. 

O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que assume interinamente a prefeitura da capital Foto: Felipe Rau/Estadão

Enquanto esteve no cargo de vice, Nunes acordou com Covas que assumiria a gestão de ações intersecretariais relacionadas à pandemia. Desde março, vinha participando de blitze promovidas pela Guarda-Civil Metropolitana (GCM) e pelas Polícias Civil e Militar em bares e baladas que decidiram furar a quarentena e funcionar no período noturno – ele estava, por exemplo, a fiscalização que, em março, fechou o cassino clandestino onde o atacante Gabigol, do Flamengo, foi flagrado.

Ainda nesse período, quando a Prefeitura decidiu antecipar feriados para tentar manter mais gente em casa, e anunciou a medida sem apoio do governo do Estado, Nunes atuou como bombeiro e passou a ter uma relação mais próxima com o governador – Doria teve papel decisivo, em 2020, para escolher Nunes como o vice de Bruno Covas, em uma ação que visava selar uma aliança entre MDB, PSDB e DEM para as eleições presidenciais de 2022.

No cargo, Nunes contará com apoio da Câmara, que também espera as mesmas condições de temperatura e pressão vindas do Executivo. Nesta terça-feira, os vereadores devem votar em segundo turno um Programa de Parcelamento Incentivado (PPI) que isentará de multas contribuintes inadimplentes, e aguardam uma sanção sem vetos do que for acordado. 

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Embora o MDB seja uma bancada pequena na cidade, ela faz parte de um bloco parlamentar que conta com DEM, partido do presidente da Câmara, Milton Leite, e ainda o PTB. No Legislativo paulistano, Nunes atuou diretamente ao lado de Leite para montar o bloco, que tem a mesma figura jurídica que teria um partido na distribuição de assentos nas comissões. Esse ‘partido’ já é maior do que as duas maiores legendas da Casa, PSDB e PT.

“Não vai mudar nada no tratamento do Executivo com o Legislativo”, disse Milton Leite, que afirmou ainda ter esperança “na pronta recuperação” do prefeito. 

Líder do PSDB, o vereador Xexéu Tripoli também disse que não haverá mudanças. “A gente tem de tomar o exemplo do Bruno, da forma como ele tem agido, e não parar nenhum minuto. Não vejo motivo para que a gente pare alguma coisa ou deixe de encaminhar algum projeto. Eles foram eleitos com o mesmo projeto”, afirmou.

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A oposição também afirma esperar uma manutenção de trajetos. “O diálogo permanecerá o mesmo por parte da oposição. As diferenças que temos são políticas, não pessoais, e consideramos que Nunes manterá as mesmas políticas de Covas, e assim as diferenças e proximidades serão as mesmas”, disse a vereadora Luana Alves, líder da bancada do PSOL. 

“Existem alguns pontos da trajetória do Nunes que nos preocupam, em especial as acusações de violência doméstica, mas o que a gente espera é conseguir ter um bom diálogo”, disse a vereadora, que no domingo havia procurado a Casa Civil para repassar desejos de pronta recuperação ao prefeito licenciado.

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