Nunca houve uma proposta tão confusa de reforma eleitoral; leia análise

A personalização na política cresce, e o partido enfraquece

Por Fernando Guarnieri
Atualização:

Abelardo Barbosa, o Chacrinha, dizia ter vindo para confundir, e não para explicar. Observando o relatório da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 125/2011 da reforma eleitoral, a impressão é de que a intenção da relatora, deputada Renata Abreu (Podemos-SP), seria a mesma. Nunca houve uma proposta tão confusa de reforma eleitoral. 

Propunha-se a combinação do sistema atual com o de voto único não transferível (conhecido como “distritão”) nas eleições para o Legislativo e o voto alternativo nas eleições para o Executivo. Segundo a justificativa da relatora, nosso sistema eleitoral, por conta da representação proporcional de lista aberta, não seria “inteligível ao eleitor médio” (sic). Por que não, então, complicá-lo um pouco mais?

Presidente da Câmara, dep. Arthur Lira conversa com parlamentares durante a votação da PEC na nova reforma eleitoral. Foto: Cleia Viana/Agência Câmara

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Com a derrota dos principais pontos do projeto, ao fim e ao cabo parece que se tratou apenas de uma finta. Ao colocar esse bode na sala promoveu-se o retorno das coligações nas eleições proporcionais, o que beneficia diretamente partidos pequenos, como o Podemos da relatora. 

A Proposta de Emenda à Constituição ameaçava pulverizar o sistema partidário e, para evitar isso, os partidos “fortes” aceitaram abrir mão de avanços no sentido de diminuir o número de partidos, como a proibição das coligações. Seguiremos o sistema mais fragmentado do mundo, mas evitamos sua atomização.

Passado o susto, o teor do relatório nos alerta para uma tendência em reformas políticas por todo o mundo. O sentimento antissistema tem levado à crescente personalização da política e a um enfraquecimento dos partidos, o que, em uma época que demanda cada vez mais ação coletiva, pode ser um problema.

*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR ASSOCIADO DO IESP-UERJ

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