Nunca houve festa assim em Nova Trento, a terra da santa

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Por Agencia Estado
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Fogos de artifício riscaram e iluminaram o céu de Nova Trento na madrugada de hoje, quando o papa João Paulo II oficializou a canonização de Madre Paulina. Diante do telão instalado à frente da pequena igreja do santuário de Vígolo, a 6 quilômetros do centro da cidade, onde a primeira santa brasileira fundou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, uma multidão enfrentou o sono e o tempo instável para acompanhar a cerimônia transmitida ao vivo do Vaticano e participar da comemoração, que reuniu cerca de 40 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, que esperava mais de 100 mil e chegou a contabilizar 500 ônibus e 5 mil outros veículos. A irmã Lígia Mora, coordenadora da comunidade de Vígolo, pôde respirar mais aliviada. Um grande aparato policial foi montado para garantir a segurança e o fluxo de trânsito, de acordo com a expectativa. Mas como acomodar e alimentar tanta gente em Vígolo? "Dei graças a Deus até pela chuva de sábado. Muita gente que viria de carro acabou desistindo da viagem", conta a irmã. Para ela, foi recebido o número justo de visitantes, que puderam ser atendidos. Ainda embalada pela emoção de assistir à canonização, irmã Lígia comentou: "Como a gente poderia esperar que aquela camponesa de pé no chão teria sua imagem pendurada no Vaticano, como nós pudemos ver? A palavra empobrece o sentimento. Não dá para explicar", diz ela. De mãos postas A pequena Loren Dana, de oito anos, não precisava de explicação alguma. Muito contrita, passou vários minutos de mãos postas e olhos fechados, junto com a mãe, na frente do telão. A confeiteira Lurdinha Evangelista havia levado sua filha para agradecer à Santa Paulina por ter atendido a suas preces. Loren Dana tinha nascido com menos de dois quilos e duas cardiopatias. Agora é saudável e está muito familiarizada com orações: é uma das cantoras do coral da igreja que freqüenta em Imbituba (SC). Exemplos de devoção podiam ser vistos em todo canto em Vígolo, no final de semana. No início da noite de sábado chegou um pequeno grupo de peregrinos, que demorou três dias na viagem a pé de Florianópolis. Outra romaria, com mais de mil pessoas, saiu na manhã de ontem de Brusque para um percurso de 25 quilômetros, chegando à tarde ao santuário. Para atender a esse fluxo crescente de visitantes, Nova Trento precisa se estruturar para se transformar em grande pólo de turismo religioso. Com apenas dois hotéis de médio porte e outros dois pequenos, e um plano diretor que restringe investimentos dessa natureza, há muito o que fazer. Adaptação à nova realidade A secretária de Turismo da cidade, Ivana Cadore, estava visivelmente satisfeita com o número menor que o previsto de visitantes, o que evitou possíveis problemas ontem. Ela diz que o município deve "se adaptar à nova realidade" com a canonização de Santa Paulina. Além do envolvimento das três esferas de governo, ela afirma ser imprescindível a participação da comunidade. Afinal, Nova Trento é a única no Brasil que tem dois santuários (o outro é dedicado à Nossa Senhora do Bom Socorro) e 36 igrejas, capelas e oratórios, um farto material de interesse de devotos e estudiosos. Flávio José de Almeida Coelho, presidente da Santur (órgão que coordena o turismo de Santa Catarina), afirmou que é preciso explorar o turismo de forma eficiente, já que é uma atividade que dá renda e empregos. No caso de Nova Trento, "a pessoa que vem fazer suas orações, pode querer conhecer outras cidades próximas, como Florianópolis. Assim, é preciso estar preparado para atender bem esse turista". Tudo deve ser bem planejado, diz ele, um pouco irritado com as barracas que transformaram a entrada de Vígolo em um camelódromo mambembe. O volume exacerbado de vendedores de comida, bebidas, lembranças e um grande número de quinquilharias que invadiram o santuário também deixa irmã Lígia muito preocupada. Ele prefere fica apenas com as barracas instaladas há cerca de 10 anos no local. "Chega uma hora dessas, em que esses antigos comerciantes poderiam ganhar mais, e aparece essa concorrência", diz ela, que pede providências. O prefeito Godofredo Tonini já prometeu que, a partir de hoje, todos aqueles que montaram barracas por causa da canonização serão retirados do local. Irmã Lígia vai agradecer. Mal saindo de dois meses de intenso trabalho para preparar a comemoração de ontem, ela têm de pensar em 14 de julho, dia de Santa Paulina. A rigor, a data litúrgica é 9 de julho, mas o segundo domingo do mês foi escolhido para a realização da festa popular. Agitada como nunca Nova Trento nunca foi tão agitada quanto este final de semana. A movimentação do sábado prosseguiu noite adentro. A maioria das barracas permaneceu aberta, aguardando os devotos que foram chegando para assistir à canonização no telão. Além de várias missas no decorrer do dia, houve uma missa campal solene e, à tarde, apresentou-se a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina e grupos folclóricos, para aplausos dos que não tinham urgência de retornar a suas cidades.

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