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Novos híbridos de maracujazeiro resistem a fungos

Por Agencia Estado
Atualização:

Quatro novas variedades de maracujazeiro servirão para acalmar as ansiedades do mercado da fruta no País, que, apesar de ser o maior produtor mundial, teve de importar suco de maracujá este ano para compensar as perdas com doenças no campo. Os híbridos, resistentes a fungos presentes no solo, foram obtidos pela tecnologia de hibridação somática, na qual duas células de espécies diferentes são fundidas em uma. É uma versão mais radical dos cruzamentos tradicionais, que não funcionam no maracujá. As plantas resistentes foram desenvolvidas ao longo de dez anos no laboratório da geneticista Maria Lúcia Carneiro Vieira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo. "A técnica já existe desde a década de 70, mas só recentemente começou a ser usada com bons resultados no Brasil", conta a pesquisadora. Dezesseis pés de maracujá, de quatro variedades diferentes, já estão florescendo no câmpus da Esalq, em Piracicaba. A fusão de células somáticas (adultas) é um processo diferente da clonagem e da transgenia. Nenhum material genético é copiado ou inserido no DNA da planta. Duas células haplóides - nesse caso, com 18 cromossomos cada - são combinadas para formar um poliplóide artificial - com 36 cromossomos -, algo que não é possível em animais. "A nova célula passa a ter dois genomas completos", observa Maria Lúcia. Os pesquisadores fundiram células da folha do maracujá-amarelo, o mais cultivado no Brasil, com células do tecido de quatro espécies silvestres resistentes ao fungo Fusarium, que faz a planta murchar. A produção de um maracujazeiro transgênico seria outra solução, mas para isso seria necessário conhecer os genes específicos que conferem resistência à planta. Enxertos - Por carregarem o dobro de cromossomos, os híbridos somáticos tendem a ter células maiores, ser mais robustos e crescer mais devagar. Os novos maracujazeiros, no entanto, não dão frutos, apenas flores. "Essas plantas não prestam como produtoras, servem apenas como porta-enxertos", explica Maria Lúcia. O porta-enxerto é um pedaço do caule do vegetal híbrido que serve de suporte para o crescimento da planta tradicional. Os dois cortes de vegetal são colados um no outro com fita adesiva e acabam se fundindo, formando uma nova planta. O maracujazeiro resultante leva o genoma de resistência a doenças, mas pode se reproduzir normalmente. Seria como espetar a ponta de um lápis amarelo em um lápis azul, que passaria a escrever em verde. "Toda a laranja plantada em São Paulo é porta-enxertada", diz Maria Lúcia. Outra equipe da Esalq, coordenada pelos professores Francisco de Assis Alves Mourão Filho e Beatriz Januzzi Mendes, trabalha com a hibridação somática de laranjeiras. Onze híbridos já foram produzidos e estão passando por testes de campo. Ambas as pesquisas são financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Aplicação - Os híbridos de maracujá ainda não foram patenteados, mas os porta-enxertos já estão disponíveis para a indústria, afirma Maria Lúcia. Os novos cultivares serão um reforço importante para o setor produtivo. O maracujazeiro é uma planta bastante vulnerável a ataques por vírus, bactérias e fungos, que juntos causam perda de 35% da produção nacional, segundo Maria Lúcia. "O maracujá é uma cultura nômade. Quando chega uma doença, você simplesmente muda para outro lugar." As perdas este ano foram grandes. Tanto que o Brasil precisou importar cerca de 150 mil toneladas de maracujá só para suprir a demanda interna, de 450 mil toneladas, diz a pesquisadora. O maior problema são as viroses, que, segundo Maria Lúcia, só poderão ser resolvidas com um planta transgênica.

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