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Novo superintendente da PF no Rio teve protagonismo em operações contra Eike e Cabral

Especialista em crimes financeiros, foi levado a Brasília logo após prender o empresário; saiba quem é Tácio Muzzi

Por Caio Sartori
Atualização:

RIO - O novo superintendente da Polícia Federal no Rio, cujo nome não estava na lista de indicados pelo presidente Jair Bolsonaro, é figura conhecida nas operações de combate à corrupção no Rio. Especialista em crimes financeiros, Tácio Muzzi já chefiou a Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros e chegou a assumir interinamente o cargo de superintendente no ano passado, em meio a outro tumulto administrativo causado por Bolsonaro no braço da PF em seu berço político.

Superintendente da Polícia Federal no Rio,Tácio Muzzi Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

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Hoje no cargo de delegado regional executivo, Muzzi coordenava, antes de ocupar funções no Ministério da Justiça e Segurança Pública durante o governo Michel Temer, o grupo de trabalho da Lava Jato no Rio. Teve protagonismo, por exemplo, na prisão do empresário Eike Batista, em janeiro de 2017, cujos crimes que teria praticado dialogam com a especialidade de Muzzi - tanto como delegado quanto na carreira acadêmica.  

Outra operação central na carreira de Muzzi foi a Calicute, de novembro de 2016, que prendeu o ex-governador Sérgio Cabral, personagem-chave de todas as investigações da Lava Jato fluminense. Aquele momento, segundo o próprio delegado afirmou na ocasião, marcava o início da cooperação entre Rio e Curitiba, até então o epicentro da operação. 

Dentro da PF, é tido como um conhecedor da estrutura do órgão, além de aberto ao diálogo. “Enquanto entidade representativa da categoria, entendemos que o Tácio é um nome sensato, de extrema confiança dentro da categoria, justamente porque conhece internamente a PF do Rio de Janeiro”, afirma o presidente do Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal no Rio, Gladiston Alves da Silva, para quem a novela em torno das nomeações é mais danosa do que os nomes em si. 

Logo após prender Eike, ainda em janeiro daquele ano, Muzzi fez as malas e partiu para Brasília, onde foi diretor-adjunto do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua nomeação foi publicada por um dos atuais desafetos de Bolsonaro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que ocupava a pasta de Justiça. A indicação foi do então diretor-geral da PF, Leandro Daiello

Depois, o novo superintendente chegou a ocupar outro cargo de âmbito nacional antes de voltar para o Rio. Entre 2018 e 2019, foi diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional.

Muzzi está na Polícia Federal desde 2003. Em paralelo a isso, tocou carreira acadêmica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela qual concluiu doutorado em Direito, em 2015, com a tese ‘Os fundos de pensão (de) estatais na qualidade de investidores do mercado de capitais: deveres, limites e responsabilidades’. 

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Então braço direito do ex-superintendente do Rio Ricardo Saadi, Muzzi assumiu provisoriamente o posto no ano passado quando os atritos entre Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro começaram a aparecer. À época, o presidente já demonstrava interesse em interferir no comando da PF em seu berço político, Estado em que seus filhos Carlos e Flávio são investigados pelo Ministério Público Estadual, sem relação direta com a PF. 

Muzzi deixou a função interina depois de cinco meses, quando nomearam Carlos Henrique de Oliveira, também ele no centro da nova polêmica envolvendo a Polícia Federal e o presidente da República. Nesta semana, pouco após a saída de Moro do governo, Oliveira foi levado para Brasília por Bolsonaro e o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre, que o colocaram no cargo de diretor-executivo do órgão, o segundo mais importante na hierarquia. 

Foi no âmbito da nova nomeação de Oliveira que Bolsonaro voltou a atacar a imprensa, quando questionado sobre sua suposta interferência na Polícia Federal. “Cala a boca”, gritou o presidente para os repórteres, quando perguntado se havia interferido no braço fluminense do órgão.

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