Novas divergências podem adiar julgamento de Renan

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Por NATUZA NERY
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O julgamento do caso Renan Calheiros (PMDB-AL) no Conselho de Ética recebeu nos últimos dias condimentos novos que devem enrolar ainda mais a definição de seu futuro à frente do cargo. Após três meses de Senado praticamente à reboque da crise, nem os relatores nem os aliados do presidente do Congresso apostam em votar a representação contra ele nesta semana. Se a votação do processo por quebra de decoro for secreta, como deseja Renan para tentar escapar do plenário, dois dos três relatores prometem não apresentar seu parecer na reunião desta quinta-feira. Caso seja aberta, como defende a oposição e até alguns setores da base do governo, parlamentares ligados ao peemedebista pedirão vista ao relatório final, adiando a decisão. Os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) não querem uma deliberação secreta, enquanto o senador Almeida Lima (PMDB-SE), terceiro relator da representação, defende o contrário. Em clima de conflagração, há basicamente duas frentes de combate. De um lado, os que trabalham para aniquilar o caso no próprio conselho. Do outro, os que brigam para submeter o julgamento ao plenário de 81 senadores. Nessa contenda, as análises regimentais para embasar posições políticas se multiplicam ao sabor dos interesses. Vago, o regimento interno do Senado permite diversas interpretações sobre o mesmo evento. Dois diferentes pareceres foram produzidos por assessores legislativos para justificar teses opostas. O primeiro versava sobre a necessidade de votação secreta sem relatório conclusivo no Conselho de Ética. O segundo, produzido a pedido do partido Democratas nesta quarta-feira, diz exatamente o contrário: "entendemos, em síntese, que a sessão do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar é aberta". Enquanto houver dissenso, não há como fugir da disputa política. Há 90 dias os senadores estão envolvidos nesta que já é classificada como uma das piores crises do Senado. MARCOS SANTI Renan foi acusado de interferir na tramitação do seu próprio processo, por isso tornou-se alvo de sucessivos pedidos de renúncia por parte de seus colegas. Elevando mais a temperatura do caso, Marco Santi (secretário-adjunto da Mesa do Senado) entregou o cargo nesta quarta-feira alegando não conseguir suportar mais a pressão psicológica que sofria. Segundo declarações suas, o processo sofreu várias tentativas de manipulação. "É muito difícil alguém controlar funcionários do Senado e continuar presidindo a Casa durante o inquérito que investiga sua própria vida", reclamou Marisa Serrano, defendendo o secretário. Marcos Santi teve de explicar suas declarações ao Conselho e à Corregedoria da Casa nesta quarta-feira. Aos senadores, afirmou não ter provas materiais e disse jamais ter recebido uma ordem direta de Renan Calheiros. Apesar disso, relatou tentativas de manobras para beneficiar o presidente, seja para abrir brechas a questionamentos futuros, seja para evitar votações em momentos de dificuldade. Concursado e há 20 anos atuando como assessor legislativo, Santi agora teme sofrer perseguição e ser demitido do Senado, por meio de um processo administrativo.

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