PUBLICIDADE

Nomeações de magistrados na Lava Jato e Mãos Limpas são distintas, diz analista

Para a economista Maria Cristina Pinotti, que estuda casos de corrupção no Brasil e na Itália, convites a Moro e promotores italianos partiram de motivações diferentes

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz
Atualização:

A nomeação do juiz Sérgio Moro, um dos magistrados da Operação Lava Jato, para o Ministério da Justiça pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, guarda distinções importantes com os convites feitos pelo ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi a procuradores que participaram da Operação Mãos Limpas. A avaliação é a da economista Maria Cristina Pinotti, estudiosa dos dois casos.

A principal diferença, na opinião da economista, reside no fato de Berlusconi ter chegado à política como um empresário já suspeito de irregularidades no ramo de mídia e construção civil, enquanto Bolsonaro, ex-militar, fez carreira no Congresso sem acusações do gênero, ainda que ambos tenham inclinações populistas.

Sérgio Moro aceitou convite de Jair Bolsonaro (PSL) e deverá ser o ministro da Justiça Foto: Werther Santana/Estadao

PUBLICIDADE

“É preciso tomar um enorme cuidado nesse tipo de comparação. Não tem nada a ver uma coisa a outra porque o Berlusconi é um cara muito diferente do Bolsonaro”, diz. “Estava envolvido em várias falcatruas e entrou para a política para escapar da cadeia. Tem que separar quem era o Bolsonaro e quem era o Berlusconi.”

Outra diferença, diz Maria Cristina, é o quanto cada operação avançou nos seus respectivos países. Para a economista, a Lava Jato alcançou resultados maiores e mais duradouros que a Mãos Limpas. “Se você pegar os ataques que a Lava Jato sofreu, até agora a operação sobreviveu sem revezes”, afirma. “Estamos muito à frente da Itália.”

A pesquisadora acredita que o pedido feito por Moro para ter carta branca no ministério e a abrangência da “superpasta”, que deve acolher, entre outros órgãos, o Coaf, deve colaborar para que o combate à corrupção passe da punição de casos já existentes para a criação de mecanismos de controle para evitar novos escândalos. Um deles é a rapidez na detecção de lavagem de dinheiro.

“O Moro participou desse primeiro pilar (o da punição) e ao sair da Lava Jato ele dá um passo além”, afirma. “Temos que analisar como montar um sistema eficaz. Temos informações no Coaf que caem no vazio. Precisamos modernizar o combate à lavagem de dinheiro.

Maria Cristina não vê problemas na concentração de tantas atribuições no novo ministro, bem como críticas feitas por outros magistrados sobre a ausência de uma “quarentena” na transição de Moro da magistratura para o Poder Executivo e faz um paralelo com o Plano Real. “Para promover uma mudança você tem que ter um “Plano Real” da corrupção. Ali você também concentrou poderes”, conclui.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.