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Nome que Bolsonaro diz ter usado em exame de covid-19 é de filho de responsável pela coleta

Mãe de jovem de 16 anos é tenente-coronel da Aeronáutica, de acordo com Ministério da Defesa; exames do presidente foram divulgados por determinação do STF após o ‘Estadão’ pedir na Justiça para ter acesso aos laudos

Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Lorenna Rodrigues (Broadcast) e Rafael Moraes Moura
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro utilizou como codinome em um exame para detecção do coronavírus o nome do filho de uma das responsáveis pela coleta do material utilizado na análise, uma farmacêutica que trabalha no Hospital das Forças Armadas (HFA). A informação foi revelada pelo jornal Correio Braziliense e confirmada ao Estadão pelo Ministério da Defesa. 

Em um dos exames, o nome utilizado é o do jovem R. A. A. C. F., de 16 anos. De acordo com o Ministério da Defesa, a mãe de R.A., que é tenente-coronel da Aeronáutica, coordenava a coleta das amostras para o exame de covid-19 do presidente e de seus assessores. Estava também sob a coordenação dela o envio do material para o laboratório Sabin, responsável pelo exame. O exame foi por coleta de material da nasofaringe, feita no dia 17 de março. 

O presidente Jair Bolsonaro com máscara da Polícia Militar na frente do Palácio da Alvorada Foto: Dida Sampaio/Estadão

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O Estadão está preservando os nomes dos envolvidos por se tratar de um menor. Segundo a Defesa, o nome do filho foi o que “ocorreu” à tenente-coronel no momento da coleta, quando foi pedida a utilização de um codinome. “Em consonância com a equipe médica da presidência, e no intuito de proteger e garantir confidencialidade aos exames do presidente da República, foi sugerida a utilização de um pseudônimo, sendo o nome que lhe ocorreu, naquele momento”, afirmou a pasta, em nota.

Os exames do presidente Jair Bolsonaro foram divulgados na quarta-feira por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) após o Estadão pedir na Justiça para ter acesso aos laudos. O Palácio do Planalto não explicou a decisão de Bolsonaro de utilizar o nome de uma pessoa real. O presidente disse que utiliza há mais de dez anos codinomes em situações como a manipulação de remédios em farmácias. 

Além de trabalhar no HFA, a tenente-coronel é sócia, com o marido, de uma farmácia de manipulação em Brasília (DF). Em foto nas redes sociais, ela colocou os dizeres “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, slogan utilizado por Bolsonaro.

Ainda na quarta-feira, o Estadão falou, por telefone, com o pai de R.A, marido da tenente-coronel. Na ocasião, ele disse que não sabia o motivo de o presidente ter usado o nome de seu filho. “Não tenho (nenhuma teoria sobre o motivo). Você podia perguntar pra ele (Bolsonaro) me fala depois”, disse. 

O pai, que também é farmacêutico, se negou a responder se o jovem R.A. havia feito exame para covid-19. “Não vou dar esse tipo de informação, meu filho é menor”, afirmou. Ele disse que não conhecia Bolsonaro, mas não quis responder se era apoiador do presidente. 

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A reportagem ligou para a mãe nesta sexta-feira. Ela desligou o telefone depois da identificação da repórter e não respondeu às mensagens enviadas. 

Codinome ​

Questionado pela reportagem, o laboratório Sabin disse que não utiliza codinomes nos cadastros realizados em suas unidades. “Os casos referidos foram identificados e colhidos pelo HFA. Coube ao Sabin apenas o processamento dos exames preservando todas as informações encaminhadas pelo hospital, que é responsável pela identificação”, informou, em nota.

Já o Ministério da Defesa afirmou que “o uso de pseudônimos em exames de saúde de pessoas públicas, visando proteger a privacidade, é comum e não representa irregularidade”, e disse que isso está de acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial. 

Exame ​

Depois de o Estadão pedir na Justiça acesso aos exames do presidente, a Advocacia-Geral da União (AGU) entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) três exames com resultado negativo feitos pelo presidente. Dois exames, feitos pelo laboratório Sabin, foram registrados com o CPF, RG e data de nascimento de Bolsonaro, mas sob codinomes. O terceiro exame, feito pela Fiocruz, identifica o nome da pessoa apenas como “Paciente 05”. Não há indicação de documentos pessoais nem da data de nascimento do paciente.

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