No Senado, novo atrito entre o PSDB e o DEM

Partidos acabam brigando por relatoria da CPI das ONGs

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Por Marcelo de Moraes e Denise Madueño
Atualização:

Brasília - Um dia depois de divergirem na Câmara, o PSDB e o DEM voltaram a entrar em choque. Desta vez a confusão foi no Senado, por conta da nomeação do relator da CPI das ONGs. Maior defensor da proposta, Heráclito Fortes (DEM-PI) era o nome de consenso para ocupar a função. Mas ontem, após o DEM tomar do PSDB a liderança da minoria na Câmara, os tucanos decidiram não apoiar sua indicação e passaram a defender a de Lúcia Vânia (PSDB-GO). A confusão foi suficiente para impedir que a CPI das ONGs tivesse sua abertura sacramentada ontem, como estava previsto. Além disso, expôs mais ainda a divergência entre os dois principais partidos de oposição, que foram parceiros durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. "O DEM já ficou com a relatoria da CPI do Apagão Aéreo. O PSDB acha que tem direito a ficar agora com a relatoria da CPI das ONGs. Ou só os democratas é que têm que ficar com todas as relatorias?", reclamou o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM). "O Democratas não abre mão da relatoria da CPI das ONGs", rebateu o líder do DEM na Casa, José Agripino Maia (RN). A crise de relacionamento foi exposta terça-feira, quando o líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (SC), aproveitou a reunião de líderes para apresentar André de Paula (DEM-PE) como novo líder da minoria, sem comunicar ao PSDB, que ocupava o cargo com Zenaldo Coutinho (PA) desde a morte do antigo líder, Júlio Redecker (PSDB-RS), em julho. Como argumento, Lorenzoni disse que a bancada do DEM tinha chegado a 60 integrantes e superado a do PSDB, que está com 57, o que lhe assegurava o direito de indicar o líder. Ele se referia ao fato de que, com a morte de Redecker e de Nélio Dias (PP-RN), assumiram dois suplentes do DEM, Matteo Chiarelli (RS) e Betinho Rosado (RN), e Pinotti (DEM-SP), reassumiu seu mandato. Para os tucanos, porém, o critério a ser levado em conta é o do tamanho das bancadas no momento da eleição, quando o PSDB tinha mais parlamentares. Outro fator aumentou a divergência. No sábado, o deputado Gervásio Silva (SC) oficializou sua saída do DEM e se filiou ao PSDB. Seu antigo partido pretende entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) para reivindicar o mandato. Ontem, deputados do DEM não pouparam críticas aos tucanos. "Nós somos oposição em tempo integral. O PSDB faz negociações setoriais com o governo", criticou Paulo Bornhausen (SC). "O PSDB é o PT rosé. Eles que gostam tanto de vinho, não são nem branco nem tinto, são rosé", comparou Ronaldo Caiado (GO). O DEM, segundo Lorenzoni, quer um novo caminho para o País. "Não podemos falar em novo caminho carregando as bandeiras tucanas." Ele contou que o partido quer ter candidato próprio à Presidência da República, assim como nas capitais e 500 maiores cidades, na eleição do ano que vem. Bornhausen disse ainda que o DEM em Santa Catarina ficou em posição desagradável quando tucanos foram ao Estado, no dia 11, festejar a troca de partido de Gervásio Silva. "A bancada se ressentiu. Que parceria é essa?" Integrantes dos dois partidos temem prejuízos para a oposição. "A oposição já é minoria. Se brigar entre si, vai virar mais minoria ainda", lamentou o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP).

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