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Antes tarde do que nunca, afirma Dilma sobre afastamento de Cunha

Em eventos no Pará, a presidente diz lamentar que o peemedebista tenha conseguido votar seu impeachment 'com a maior cara de pau' e que ele paralisou a Câmara para votar seu afastamento

Por Mateus Fagundes e Suzana Inhesta
Atualização:

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff lamentou nesta quinta-feira, 5, que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Câmara dos Deputados, tenha liderado o processo de impedimento de seu mandato na Casa. Mais cedo, ela chegou a dizer a interlocutores que achava a decisão "justa"."Eu soube, quando ainda estava em Brasília, que o Supremo Tribunal Federal havia afastado o Eduardo Cunha. Deixa eu dizer que antes tarde do nunca", disse. "A única coisa que lamento é que ele infelizmente conseguiu votar o impedimento e vocês assistiram a ele presidindo, com a maior cara de pau, o processo na Câmara", afirmou a presidente, em discurso durante a inauguração da operação comercial da Usina de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA). 

Dilma voltou a repetir que o processo de impeachment contra ela foi fruto de uma "chantagem" de Cunha para que o PT não votasse pelo afastamento dele no Conselho de Ética. "E hoje o STF afastou Cunha alegando que ele estava usando seu cargo para fazer chantagens", disse.

PresidenteDilma faz sobrevoo naUsina Hidrelétrica de Belo Monte Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

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Na manhã desta quinta-feira, 5, Cunha foi afastado do mandato de deputado federal e, consequentemente, do comando da Casa, depois de decisão do ministro do STF Teori Zavascki. 

À tarde, em entrega de moradias do Minha Casa Minha Vida (MCMV), em Santarém (PA), a presidente atacou Cunha mais uma vez dizendo que ele paralisou o Congresso para votar seu impeachment. "O Congresso está parado. O senhor Eduardo Cunha não deixa o Congresso trabalhar desde o início do ano", afirmou. 

Investimento. Durante a manhã, a presidente participou da inauguração da operação comercial da Usina de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA). Conforme o governo, no pico da construção, Belo Monte gerou 20 mil empregos diretos e 40 mil empregos indiretos na região.

Em uma espécie de balanço dos investimentos que fez até agora em seus mandatos, Dilma disse ter orgulho da construção de Belo Monte e de ações no Norte e no Nordeste do País. "Escolhi priorizar interesses do povo mais pobre. Escolhas que são condições essenciais para que nosso País cresça e se desenvolva", afirmou.

Representantes de movimentos sociais e de trabalhadores da Belo Monte entregaram flores e presentes à presidente Dilma, aos gritos da plateia de "no meu País, eu boto fé, porque ele é governado por mulher".

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A presidente voltou a atacar o que chamou daqueles que querem chegar ao poder "sem voto", além de falar mais uma vez em "golpe" e que não cometeu qualquer crime de responsabilidade. "Não haverá perdão da história para os golpistas. Quem vier a sentar na minha cadeira tem de prestar contas a vocês", disse.

Legado. Em Santarém, Dilma também fez uma espécie de defesa do seu legado na Presidência. Ela ressaltou políticas de seu governo, como Bolsa Família, ProUni e Fies, e disse que o MCMV é a ação mais importante de seu mandato.

"Não tem esmola aqui. É o dinheiro que o povo paga de imposto voltando para o povo", afirmou. "Por isso, o golpe que querem me dar é contra os nossos acertos, não contra nossos erros."

Na cidade, Dilma entregou 3.081 casas, que totalizaram investimento de R$ 161,9 milhões. Ocorreram entregas simultâneas em Camaçari (BA), Uberaba (MG), Itapipoca (CE) e Campos dos Goytacazes (RJ). Ao todo, 6.597 unidades habitacionais foram construídas.

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De acordo com informações do governo, o MCMV já beneficiou mais de 10 milhões de pessoas, com a entrega de 2,63 milhões de moradias em todo o país. Existem, ainda, 1,59 milhão de moradias em obras e 4,22 milhões de contratadas. Desde a criação do programa, em 2009, já foram investidos R$ 294,5 bilhões para a construção de moradias populares.

Protesto. Dilma ainda estava no avião presidencial rumo a Altamira quando cerca de 300 manifestantes, entre moradores e membros do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), protestavam na BR-230 (Transamazônica). Eles fecharam o quilômetro 627, bloqueando a entrada e saída da cidade com pneus em chamas e impedindo que trabalhadoresda Hidrelétrica de Belo Monte se deslocassem para Vitória do Xingu, município vizinho, onde ocorreria a solenidade de inauguração da turbina.

Agentes da Polícia Rodoviária Federal conseguiram negociar a liberação da rodovia, mas Dilma não foi de carro para o local da solenidade. Ela utilizou um helicóptero. Segundo um agente, os manifestantes cobram a realocação de moradia, pois o local em que se encontram sofre constantes alagamentos, mesmo quando não chove.

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Um fato constrangedor marcou a inauguração da entrada em operação da turbina de Belo Monte. Foi durante o discurso do presidente da Fundação Viver e Produzir, de Altamira, João Batista Uchoa. Diante de Dilma, que estava perto dele, e após fartos elogios à gestão da presidente, quase chorando, Uchoa ofereceu a ela um doce acocholatado de cacau, produzido na região.  Dilma recusou, esfregando o braço apontado para o discursante, dizendo que era alérgica a chocolate. "Então leve para o seu netinho", reagiu Uchoa, meio encabulado. Colaborou Carlos Mendes, especial para o Estado