No dia D, uma tropa de choque sem forças

Wellington tentou resumir caso à questão da filha fora do casamento

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Por Ana Paula Scinocca e Rosa Costa
Atualização:

Do lado de dentro um debate morno sobre o futuro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Diferentemente da última quinta-feira, a reunião final do Conselho de Ética sobre a primeira representação contra o peemedebista ontem não teve grandes emoções. As três horas e quinze minutos de duração da sessão foram marcadas basicamente pela tentativa da tropa de choque de Renan mostrar que o presidente do Senado não cometeu quebra de decoro. Seus aliados tentaram, mas não conseguiram, e o que se viu foram declarações avulsas contestando aleatoriamente a perícia da Polícia Federal. Num momento inflamado de defesa, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) resumiu, no voto em separado que apresentou, a situação de Renan a uma polêmica sobre ter ou não filhos fora do casamento. E ele próprio concluiu: "Filho fora do casamento nem de longe constitui quebra de decoro parlamentar." Mais na frente, Wellington resolveu atacar os relatores do parecer que pede a cassação do mandato do presidente do Senado, Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MT). "Se mentir no conselho é quebrar o decoro, indago-me se a quebra de decoro não partiu da própria relatoria neste caso", argumentou. Seu parceiro na defesa apaixonada de Renan, senador Almeida Lima (PMDB-SE), exaltou o voto do colega. "Diante do seu parecer, vossa excelência foi demolidor. O voto de vossa excelência é irrespondível", afirmou. ESTRATÉGIA Na defesa de Renan, Wellington leu um parecer de 34 páginas, no qual procurou desconstruir ponto por ponto os oito itens levantados pelos relatores Marisa e Casagrande, que indicavam a quebra de decoro de Renan. Casagrande e Marisa responderam: "Fomos duros no nosso relatório. Mas nunca desleais. Nosso relatório é técnico e não temos nada de pessoal contra o senador Renan", disse Casagrande. "Eu teria todas as razões políticas para votar a favor de Renan Calheiros, mas a minha posição aqui está embasada em provas de que ele não agiu como se espera de um parlamentar." Marisa reforçou: "Fizemos um relatório em cima da ética e do decoro." Tudo pareceu milimetricamente ensaiado na sessão de ontem. A ênfase de Wellington na defesa de seu voto transformou-se pouco depois num sutil pedido de desculpas a Casagrande e Marisa. Ele se dirigiu aos dois e os beijou na cabeça. Wellington também pediu para suprimir de seu voto o trecho no qual afirmava que o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), mandou engavetar a representação. Fez isso depois de o próprio Tuma afirmar que tal fato não ocorrera. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), que na última reunião chamou Almeida Lima de "vendido e boneca", ontem permaneceu em silêncio. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ironizou o relatório de Wellington: "Seu parecer foi muito inteligente. Tentou semear a cizânia, mas não teve o condão de desvalorizar as conclusões sérias (da perícia da PF e do parecer de Marisa e Casagrande)." TUMULTO Se não houve briga do lado de dentro, o mesmo não aconteceu do lado de fora. Após o término da reunião do conselho, houve tumulto entre os jornalistas e um segurança do Senado, que tentou agredir um cinegrafista. Coube aos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Nery (PSOL-PA) a iniciativa de apartar a briga. Casagrande resumiu o espírito: "Aqui sempre tem de ter uma confusão. Hoje, como não foi lá dentro, teve de ter briga aqui fora."

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