No Conselho de Ética, Renan só convence aliado de que é inocente

Senador não mostra novos documentos e os outros dois relatores dizem ter ficado insatisfeitos com depoimento

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Por Rosa Costa , Ana Paula Scinocca e BRASÍLIA
Atualização:

Sem apresentar novos documentos de defesa, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), limitou-se ontem a rebater superficialmente as inconsistências apontadas pelos peritos da Polícia Federal na evolução de seu patrimônio. Depois de duas horas de depoimento aos relatores do Conselho de Ética da Casa, Renan conseguiu convencer apenas um de que é inocente, seu aliado Almeida Lima (PMDB-SE). "Pode ser que até dia 30 ele me convença, mas hoje não me convenceu", disse a relatora Marisa Serrano, referindo-se ao prazo previsto para votação do parecer. Renato Casagrande (PSB-ES) também se mostrou insatisfeito com as explicações. Já Almeida Lima disse que o depoimento só serviu para "ratificar a inocência" de Renan. "A mim, confesso, ele já convenceu." Os três investigam a acusação de que o senador teve despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, incluindo a pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Para provar que tinha dinheiro para s despesas e não precisaria de Gontijo, Renan apresentou documentos de operações de venda de gado que lhe teriam rendido R$ 1,9 milhão em quatro anos. Mas a perícia do Instituto Nacional de Criminalística (INC), da PF, entregue terça-feira ao Senado, aponta várias irregularidades nos papéis. Ontem, Renan foi ao gabinete do presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), escoltado por 14 seguranças e acompanhado do perito José Appel, que o ajudaria a contestar pontos técnicos do laudo da PF. Na saída, tentou desqualificar a perícia, insistindo em que não ela não aponta "ilegalidade ou irregularidade". "O laudo fala de incongruência, ou seja, desencontro de informações. Não há nada de quebra de decoro, estou absolutamente convencido de que vai prevalecer no plenário a isenção de senadores e senadoras." Renan disse aos relatores que não declarou à Receita Federal os empréstimos que disse ter feito para evitar a exposição de questões pessoais, numa referência à pensão paga a Mônica Veloso. Mas Casagrande e Marisa acham que ele não conseguiu tirar as dúvidas sobre a evolução de seu patrimônio. Sobre a acusação no laudo da PF de que teria mantido sua família em 2002 e 2004 com renda mensal de, respectivamente, R$ 2.329 e R$ 8.517,17 - dado investimentos sem retorno que declarou no período, Renan disse que sobreviveu graças ao empréstimo que fez da Locadora Costa Dourada Veículos Ltda, que tem como sócios seu primo Tito Uchôa e Bianca Uchôa. É justamente Tito Uchôa que é apontado como um dos principais laranjas do senador na sociedade com o usineiro e ex-deputado João Lyra na compra de emissoras de rádio - que lhe custou outro processo no Conselho de Ética. A perícia da PF indica que só Tito e Bianca aparecem como sócios da Costa Dourada, mas Renan fazia as retiradas em dinheiro, na maior parte das vezes. Em 2004, de acordo com o laudo, o senador recebeu empréstimo de R$ 78,8 mil, em 19 parcelas; os sócios pegaram R$ 22 mil. Em 2005, ele fez um empréstimo de R$ 99,3 mil, em 24 retiradas. Já Tito e Bianca, diante do lucro de apenas R$ 71,49 mil, não tiraram nada. Ao tentar explicar porque na contabilidade de seu patrimônio agropecuário não há sinal de pagamento a empregados, Renan, segundo os relatores, disse que essa despesa era bancada pelo espólio de seu pai. O mesmo pai que ao longo de sua vida ele disse ser um homem simples, desprovido de posses. Marisa e Casagrande avisaram que vão passar o fim de semana analisando os termos do depoimento de Renan, que hoje receberão em forma de notas taquigráficas. Casagrande disse ter acertado com os outros relatores o esquema de trabalho: "Combinamos que cada um fará sua avaliação no final de semana e na terça-feira, vamos tentar fazer um só relatório."

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