NO CARIBE, UM MARQUETEIRO DISCRETO

Na campanha presidencial do país caribenho, Santana evitava entrevista e era pouco conhecido

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Por Cláudia Trevisan
Atualização:

PUNTA CANA E SANTO DOMINGO - Discrição era a marca da atuação do marqueteiro João Santana na República Dominicana. Grande parte da população só soube que o brasileiro era um dos principais assessores do presidente Danilo Medina quando ele renunciou à sua posição para voltar ao Brasil, anteontem. O publicitário ajudou o dirigente dominicano a chegar ao poder em 2012 e, desde então, se transformou em um de seus conselheiros mais próximos.

Jornalistas que seguem a campanha eleitoral e assessores partidários relataram ao Estado que Santana não participava de atividades públicas ao lado do candidato. Também não dava entrevistas e passava parte do tempo em Punta Cana, a região de areias brancas, águas cristalinas, coqueiros e gigantescos resorts que se transformou no cartão postal do Caribe dominicano. Foi de lá que Santana e a mulher embarcaram em um voo para o Brasil na noite de segunda-feira.

STO03. SANTO DOMINGO (REPÚBLICA DOMINICANA), 23|02|2016.- Una mujer vende periódicos donde se informa sobre el caso de Joao Santana, principal asesor de la campaña de reelección del presidente dominicano Danilo Medina hoy, martes 23 de febrero de 2016, en Santo Domingo (República Dominicana). Joao Santana "era un asesor importantísimo de mi campaña, pero la campaña seguirá adelante", afirmó esta mañana el mandatario dominicano. Brasil emitido ayer una orden de prisión contra Santana y su esposa, por sus presuntos nexos con el caso de corrupción de Petrobras. EFE|Orlando Barría Foto:  

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“Sua situação era muito opaca. Ninguém sabe quanto ganhava nem quem o pagava ou a que entidade estava vinculado”, disse Roberto Fulcar, coordenador-geral da campanha do opositor Luis Abinader, do Partido Revolucionário Moderno (PRM). Em meados do ano passado, a legenda pediu que a Procuradoria-Geral da República dominicana investigasse o vínculo de Santana com Medina, que tenta a reeleição. A solicitação foi reiterada ontem.

Campanha. O próprio diretor de Comunicação da campanha do presidente, Héctor Olivo, afirmou que a relação entre Medina e Santana era tratada com “muita discrição”. Segundo ele, o brasileiro cuidava da área de marketing da campanha, mas com enfoque questões “conceituais”. O trabalho prático de realização de peças publicitárias ficava a cargo de agências locais.

A discrição era tanta que Olivo teve dificuldades em dar detalhes sobre a atuação do brasileiro e seu contato com o presidente. O diretor também disse desconhecer quanto Santana cobrou por seu trabalho.

Uma das principais jornalistas da República Dominicana, Nuria Piera disse que o brasileiro não tinha uma vida pública ativa no país e que apenas um número reduzido de pessoas o conheciam pessoalmente. “É um personagem que atuava com muita discrição”, observou.

Juan Eduardo Thomas, repórter político do Listin Diário, ressaltou que não há nenhuma foto pública do presidente com Santana, apesar de o brasileiro ter sido a primeira pessoa a quem Medina agradeceu quando ganhou a presidência, em 2012. Desde então, o publicitário mantém um pé na República Dominicana.

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Oposição. A oposição tenta usar o caso da prisão de Santana para reduzir o favoritismo do presidente nas eleições do dia 15 de maio. O caso foi divulgado extensamente em rádios, TVs e jornais do país e dominou a conversação nas redes sociais a partir de segunda-feira. Medina lidera as pesquisas de opinião, seguido de Abinader.

Segundo Thomas, Santana não estava presente em eventos recentes da campanha eleitoral. Olivo, do partido de Medina, atribuiu a discrição de Santana em parte ao fato de que o lançamento oficial da candidatura à reeleição só ocorreu no dia 31 de janeiro. Mas a presença do brasileiro no país gerava desconforto desde o ano passado, o que se refletiu no pedido de investigação apresentado pela oposição.

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