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''Nenhum senador foi punido, só jornal''

Crítica do professor Di Franco foi feita durante debate sobre censura imposta ao ?Estado? no caso Sarney

Por Rodrigo Alvares
Atualização:

"Estamos assistindo a uma onda de podridão no Senado e nenhum senador foi punido. O único punido foi um jornal, que disse a verdade. Isso é impunidade", disse o professor de ética e doutor em comunicação Carlos Alberto Di Franco durante debate transmitido na quinta-feira pela TV Estadão, cujo tema foi a censura judicial à imprensa. Com mediação do jornalista Roberto Godoy e participação do jornalista Eugênio Bucci e dos internautas, discutiu-se a censura imposta ao Estado e ao estadao.com.br em relação à divulgação de notícias sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no âmbito da Operação Boi Barrica, da PF. Assista à integra do debate na TV Estadão "Os punidos são os leitores do jornal, a sociedade, que encontra barreira no caminho à informação. Matamos assim a razão de ser da imprensa", criticou Bucci. De acordo com ele, a imprensa é um elemento de incômodo ao poder. "É importante termos consciência de que a imprensa erra, mas isso não justifica sua tutela." Em relação à censura imposta pelo desembargador Dácio Vieira, foi discutido se o direito à imagem pode se sobrepor ao direito à informação. "Não se pode invocar o direito à intimidade, em caso de homem público", defendeu Di Franco. "Não me parece que o Estadão tenha invadido informações que se referem à vida íntima das pessoas", observou Bucci. Di Franco reforçou o comentário feito pelo presidente da Associação Brasileira de Magistrados (AMB), Mozart Valadares, durante entrevista à TV Estadão, de que a censura à imprensa é um atentado à Constituição. "É uma agressão à Constituição e à sociedade", ressaltou. "A liberdade não é um luxo dos jornalistas, mas um direito de todos os cidadãos. Sentenças judiciais não podem se interpor à liberdade de imprensa. É uma agressão a todos os cidadãos quando há restrição da imprensa", disse Bucci. Um internauta indagou se foi coincidência a distribuição do recurso contra o jornal para o desembargador Dácio Vieira. "Nunca vi um caso parecido, de um magistrado assumir ação de pessoa de estreita relação", respondeu Di Franco. Bucci seguiu a mesma linha. "Sabemos que o magistrado tem relação próxima, familiar com Sarney. Traz a aparência de um conflito de interesses." ?CASCA GROSSA? O jornalista também salientou, a respeito do isolamento de Brasília do resto do País, que "existe uma cultura da casca grossa" na capital federal. "Aguentar as críticas e sobreviver. Mas o que parece uma virtude, na verdade, é condenável. O político precisa ter uma casca fina para responder à sociedade e a imprensa representa isso. Ouvimos que a imprensa não representa o Brasil, mas isso não é verdade. O voto não é para mediar o debate público." Segundo Di Franco, os políticos em Brasília vivem numa bolha. "Alguns se lixam para a opinião pública. É um isolamento da cidadania." Em outra pergunta enviada por um internauta, Di Franco e Bucci conversaram sobre o sigilo da representação do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul contra a governadora Yeda Crusius (PSDB-RS). A procuradoria ingressou na quarta-feira com ação de improbidade administrativa contra ela. "Em princípio, o servidor público tem a tendência de negligenciar informações. Esta é uma ação importante, disse Di Franco. Bucci ficou intrigado com o fato de o processo correr em segredo de Justiça. "Só o que resolve o problema da liberdade de imprensa é mais liberdade de imprensa."

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