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Negacionista e apoiadora do ‘E daí?’: saiba quem é Bia Kicis, cotada para presidir a CCJ da Câmara

Fiel-escudeira de Bolsonaro na campanha de 2018, deputada é investigada no inquérito das fake news no STF

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Foto do author Vinícius Valfré
Por Vinícius Valfré
Atualização:

BRASÍLIA – O Brasil se aproximava das 20 mil mortes pelo novo coronavírus, em maio, quando a deputada Bia Kicis (PSL-DF) surgiu no plenário da Câmara com uma máscara estampando os dizeres “e daí?”. Era uma tentativa de relativizar a declaração infeliz do presidente Jair Bolsonaro sobre a doença, feita dias antes, e mais uma amostra de sua fidelidade ao bolsonarismo.

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A mudança de comando na Casa, agora nas mãos do aliado Arthur Lira (Progressistas-AL), deve render a ela a presidência do mais prestigiado colegiado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Kicis é investigada no chamado inquérito das fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Se confirmada como chefe da CCJ, caberá a ela liderar os trabalhos do grupo que tem como atribuição analisar a constitucionalidade de todos os projetos da Câmara. De acordo com as investigações preliminares, ela usou a cota parlamentar para custear o disparo de mensagens favoráveis ao fechamento do Congresso e do STF. 

A deputada federalBia Kicis, usando a máscara com os dizeres 'e daí?', em maio do ano passado; ela é a atual presidente da comissão mais importante da Câmara Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO (21/5/2020)

Aos 59 anos, a deputada é ex-procuradora do Distrito Federal e emergiu na política na esteira dos protestos em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Com bandeiras conservadoras e que agradam extremistas nas redes sociais, ela se aproximou do núcleo de Bolsonaro ainda em 2014 e se tornou fiel escudeira na pré-campanha de 2018.

A futura presidente da CCJ foi a terceira mais votada no DF, com 86.415 votos. Apoiada por setores do funcionalismo, também conseguiu votos nas regiões periféricas. A deputada dialoga com movimentos de mulheres, mas rechaça o feminismo.

Na campanha de Bolsonaro, criticado por declarações ofensivas contra mulheres, Kicis era uma das poucas mulheres com acesso direto ao candidato. Ela teve papel importante na aproximação entre Bolsonaro e Paulo Guedes, que mais tarde se tornou ministro da Economia. A deputada organizou os primeiros encontros entre ambos, na época em que Guedes ainda mantinha tratativas com o então presidenciável Luciano Huck

São de Kicis algumas das principais iniciativas na Câmara em favor do voto impresso e da “Escola sem Partido” duas promessas do presidente durante a campanha. Foi na questão do ensino, porém, que a deputada acabou contrariando o governo ao votar contra o novo Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), mecanismo que precisou ser renovado no fim do ano passado sob o risco de levar a um colapso dos sistemas educacionais regionais. A posição de Kicis incomodou o governo, que buscava colher louros da aprovação da proposta, embora tenha tido pouco protagonismo nasdiscussões sobre o novo modelo.

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Na pandemia, a deputada destacou-se pela postura negacionista e como uma das principais disseminadoras de informações distorcidas e falsas sobre a covid-19. A agência de checagem Aos Fatos a elencou entre os maiores geradores de desinformação, ao lado da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filhos do presidente. 

Em um vídeo divulgado no início de janeiro, Kicis aparece em um carro ao lado de uma amiga que ensina um "truque" para não usar máscaras. "É o jeito, né, gente? Eu quero respirar, eu preciso respirar", diz ela.

Uma das publicações mais criticadas de Kicis, no entanto, foi a em que comemorava o fim do lockdown em Manaus. Nas redes, ela parabenizou a população que se insurgiu contra a medida drástica adotada pelo governo local. Pouco depois, a capital amazonense mergulhou em um colapso do sistema de saúde, com pessoas morrendo asfixiadas pela esgotamento do estoque de oxigênio em hospitais. A crise gerou novos pedidos de impeachment e de abertura de CPIs contra o governo na Câmara.

Ela também gerou polêmica com uma publicação na qual ironizava a procura por empregos dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro. A deputada publicou imagem em que ambos tinham rosto negro e cabelo crespo, sugerindo que precisavam de cotas para se recolocarem. O post rendeu uma notícia-crime no STF por suposto crime de racismo. 

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Com estilo verborrágico nas redes, a deputada já xingou de "juiz de merda" o então decano do STF, Celso de Mello. Em transmissão via redes sociais, em maio, ela disse que a imunidade parlamentar lhe reservava o direito de atacar o magistrado.

"Vai se lascar, Celso de Mello. Não é à toa que você foi chamado de juiz de merda pelo Saulo Ramos. Juiz de merda! E eu estou usando aqui minha imunidade parlamentar para falar a verdade na sua cara. Juiz de merda. É isso que você é", disse, com dedo em riste, ao reclamar de decisões do ministro contra o governo. Celso de Mello se aposentou em outubro.

A adesão plena ao bolsonarismo também levou Kicis a trabalhar pela construção do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou tirar do papel após se desentender com o presidente do PSL, Luciano Bivar (PE). Ela liderou a colheita de assinaturas no Distrito Federal, embora a nova legenda ainda não tenha saído do papel.

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