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Navio Professor Besnard volta ao oceano

Por Agencia Estado
Atualização:

Dois anos e meio depois de sua última missão, o navio científico "Professor W. Besnard", da Universidade de São Paulo (USP), deixou o Porto de Santos em 1º de fevereiro para cumprir uma agenda tão relevante quanto a das viagens à Antártida já registradas no Diário de Bordo. Durante um mês, o navio servirá de base para um grupo de pesquisadores do Instituto Oceanográfico da USP, envolvido no Projeto Deproas, destinado a estudar um trecho economicamente importante da costa brasileira, a estratégica faixa entre São Sebastião, em São Paulo, e Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Os primeiros quarenta dias de viagem também servirão de teste para o antigo porém modernizado navio, que recebeu novos equipamentos de pesquisa. O Professor Besnard passou pelo canal de Santos entre cascos de navios abandonados que enferrujam no porto. Apesar da paisagem desoladora a tripulação comemorava, tentando sem muito sucesso quebrar na murada uma garrafa do prosaico vinho espumante "Espuma de Prata" para celebrar o retorno ao mar, uma possibilidade remota em meados da década de 90, quando a embarcação corria o risco de ser desativada. E foi por pouco mesmo que o Professor Besnard não virou sucata como os navios abandonados que assistiam à partida. Construído na Noruega em 1967, o Besnard acumula um histórico de 150 cruzeiros de pesquisa, entre os quais as seis primeiras missões brasileiras na Antártida. Na mais crítica delas, apoiou a montagem do acampamento-base nacional na Ilha Rei George. ?Houve época em que imaginávamos que ele nunca mais voltaria?, conta Belmiro Mendes de Castro Filho, chefe do Departamento de Oceanografia Física do Instituto Oceanográfico da USP. Mais recentemente, uma das administrações da universidade considerou a possibilidade de encerrar as atividades do navio, ancorado por muito tempo e, enfim, reformado. A garrafa de Espuma de Prata era muito grossa e o casco não conseguiu quebrá-la até que, finalmente, acabou escapando das mãos de um dos tripulantes e caiu no fundo do canal do Porto de Santos. Mas a satisfação de ver o navio em boa forma compensou a pequena ?falha? na comemoração. O Besnard levou 33 pessoas a bordo em sua primeira viagem, com duração de quatro dias, sob o comando de Waldir da Costa Freitas, que integra a tripulação do navio há 29 anos. O navio conta com uma sala de estar com televisão, vídeo-cassete, um pequeno arquivo de filmes, e uma minibiblioteca. Em seus corredores, reproduções de quadros do pintor Benedito Calixto mostram a cidade de Santos e o porto nos no século 19. Para alimentar esse grupo e as próximas equipes que serão agregadas durante a jornada - o navio só retorna para Santos no início de março - foram embarcadas duas toneladas de comida. Come-se bem no Besnard. O cardápio é variado, composto com uma combinação de massas, peixe ou carne guarnecidos de arrroz com feijão e acompanhado de frutas frescas e sorvetes para sobremesa. São cinco refeições diárias, servidas pontualmente depois que um tripulante toca a sineta indicando que a cantina está aberta: café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e um lanche mais leve antes que as luzes comuns, de trabalho, sejam apagadas e acesas as azuis (ou vermelhas), de serviço noturno. A geladeira comunitária fica sempre recheada de comida, e pode ser ?atacada? a qualquer hora entre as refeições, desde que a pessoa lave e guarde no lugar as louças, e jogue o lixo fora, deixando a mesa arrumada. É a maneira que a tripulação encontrou para manter o navio em ordem. ?Num navio você só tem três coisas para fazer: trabalhar, dormir e comer?, brincou o professor. O objetivo da primeira etapa foi a instalação de três fundeios, estações para medição de dados de correntes marítimas e meteorológicos, projeto que poderá ajudar na produção pesqueira. Elas são compostas por bóias que sustentam equipamentos como o correntógrafo, que mede direção, intensidade e temperatura das correntes marítimas. O lastro de amarração dessas unidades são velhas e pesadas rodas metálicas de trem, ancoradas no fundo do oceano. Modernizado, o navio incorporou novos equipamentos. Um sistema Inmarsat realiza a comunicação por satélite, e o perfilador acústico de correntes, que está acoplado ao navio e mede as correntes à medida em que o Besnard navega. Toda a reforma da embarcação ficou em R$ 1 milhão, e foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). ?O navio para nós é muito mais do que um meio de transporte, é o nosso principal laboratório oceanógrafo?, destacou Castro Filho.

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