O vice-presidente da República, José Alencar, voltou a criticar as altas taxas de juro brasileiras. Justificando suas declarações, ele disse que não tem que provar que é um aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Que liturgia? Não tem nada disso. Estamos falando em nome do Brasil", desabafou, depois de mais uma hora de um discurso ameno em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), referindo-se a quem o criticava por questionar o próprio governo. Pouco antes, Alencar afirmou: "Ele (Lula) sabe que a situação exige desenvolvimento real da economia e para isso tem de ter taxas de juro mais compatíveis". Na palestra, o vice-presidente, porém, fez mais de um elogio à equipe econômica comandada pelo ministro Antonio Palocci que, junto com o presidente da República, conseguiu reverter a incerteza, recuperando a credibilidade do País. Alencar citou como feitos da equipe econômica a estabilização dos preços, a queda do risco País, a volta das linhas de crédito e a valorização do real. "Devemos isso ao Lula e ao Palocci. Recebemos um País encabrestado", disse. Mas ele voltou a dizer que a economia brasileira não voltará a crescer com uma taxa de juros real, como a cobrada atualmente. "Minha cultura empresarial me aconselha a prevenir em vez de deixar acontecer. Daí porque não posso deixar a economia se submeter a uma realidade desigual", afirmou, referindo-se ao fato de que nenhum setor produtivo consegue ter a mesma remuneração que o financeiro. Segundo ele, a economia brasileira está parada, embora ele tenha evitado usar a palavra recessão, mencionando apenas o risco de entrar em um processo recessivo. "Vivemos um período ameaçador", disse. O vice-presidente afirmou que a economia brasileira não pode ser submetida a um tratamento tão desigual em relação aos países com os quais compete. De acordo com um cálculo, segundo ele, grosseiro, a taxa de juro real é de 18% ao ano, trabalhando-se com uma expectativa inflacionária de 8% nos próximos 12 meses. "Isso é 18 vezes a taxa americana ou a taxa européia, que é de 1% ao ano", afirmou. Alencar, que iniciou sua palestra sobre Retomada do Desenvolvimento dizendo que não falaria sobre taxa de juros, já que prometeu à sua mulher que não tocaria nesse assunto, começou em um tom comedido, falando apenas indiretamente sobre as dificuldades do setor produtivo. Logo no início, citou o exemplo da China que adota taxas de juros ou iguais ou menores do que as americanas. "Eles estão trabalhando com mais inteligência do que nós e estão crescendo 8%, 9% ao ano". Logo em seguida acrescentou: "Estamos precisando acordar". Dívida Ao receber um apelo para que não tivesse medo e não parasse de falar o que julgasse conveniente, Alencar respondeu que seu compromisso maior é com o Brasil. "Minha eleição foi graças à eleição do Lula, porque ninguém vota no vice. Devo à ele minha eleição. Mas fui eleito e, portanto, meu compromisso é com o Brasil e vou cumpri-lo", afirmou, respondendo ao pedido do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, que disse que ele colocasse "sua coragem e determinação em defesa do Brasil real". "Se precisar de uma divisão blindada para entrar na guerra, o senhor tem", ofereceu Afif Domingos ao vice-presidente. Alencar disse que reuniões como a que teve com os representantes das associações comerciais são importantes porque demonstram que o setor produtivo está a favor da retomada do desenvolvimento, quando será possível, e se não alcançar o pleno emprego, ao menos oferecer o máximo de oportunidades possíveis."