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‘Não tem que se acovardar com esse vírus’, diz Bolsonaro em live gravada no Palácio do Planalto

Presidente voltou a defender a reabertura do comércio e criticou governadores que mantêm medidas de incentivo ao isolamento social

Foto do author Marlla Sabino
Foto do author Thaís Barcellos
Por Emilly Behnke , Marlla Sabino e Thaís Barcellos (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro voltou, neste sábado, 18, a defender o retorno do País à normalidade com a reabertura do comércio e aproveitou para tecer críticas a políticos e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro ignorou mais uma vez as recomendações  de distanciamento social por conta do novo coronavírus e fez um novo passeio por Brasília. O chefe do Executivo parou para falar com apoiadores em frente à rampa do Palácio do Planalto e repetiu que são dois os problemas atuais: o novo coronavírus e o desemprego.

“Não tem que se acovardar com esse vírus na frente”, afirmou o presidente em live realizada em frente ao Palácio do Planalto e transmitida em sua página do Facebook neste sábado, 18. Ele ainda criticou governadores que adotaram medidas para fechar o comércio e restringir a circulação de pessoas como forma de incentivar o isolamento social. “Os Estados estão quebrados. Falta humildade para essas pessoas que estão bloqueando tudo de forma radical.”

Presidente Jair Bolsonaro provoca aglomerações em meio à pandemia do coronavírus(18/04/2020) Foto: Sergio Lima/AFP

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Sem máscara, Bolsonaro ficou durante cerca de uma hora na rampa da sede do Poder Executivo conversando com seguranças e acenando para apoiadores que começavam a se juntar à grade e que passavam em frente ao Planalto. Acompanhado do deputado Hélio Lopes (PLS-RJ) e seguranças, Bolsonaro desceu a rampa e conversou com populares. O presidente se manteve atrás das grades e não teve contato físico com apoiadores.  

"A economia não roda dessa forma. Vai faltar dinheiro para pagar salário de servidor público e o Brasil está mergulhando num caos. Quero crer que não seja apenas uma vontade desses políticos, que não vou nominar aqui, de querer abalar a presidência da República. Não vão me tirar daqui", afirmou o presidente aos populares sem citar nomes.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi lembrado, no entanto, pelos apoiadores que gritaram: "Fora Maia, impatriota". "Estamos com o senhor até o fim", gritaram. Na última quinta, 16, Bolsonaro confrontou Maia e disse em entrevista à rede de TV CNN que a atuação do presidente da Câmara era "péssima" e insinuou que o parlamentar trama contra seu governo. Em resposta, Maia disse que não iria atacar o presidente.

Antes da conversa com apoiadores, do alto da rampa em uma live transmitida pelas suas redes sociais, Bolsonaro ainda alfinetou o Supremo ao enfatizar que a Corte decidiu que Estados e municípios têm autonomia para decretar medidas que acharem necessárias para conter o avanço do novo coronavírus. "Nós vamos começar sim (a flexibilizar medidas restritivas), no que depender de mim. O STF falou que não tenho autoridade para isso, mas, no que depender de mim, vamos começar a flexibilizar e mostrar que não é esse o caminho. Estão fazendo o que bem entendem. Na hora que chegar a conta, não queiram colocar aqui para mim. Não é para mim não. É para o povo brasileiro. Dinheiro aqui não é meu. É do povo brasileiro", disse, apontando para o outro lado da Praça dos Três Poderes, onde está o prédio do Supremo.

Segundo o presidente, a conta para repor a perda de arrecadação de Estados e municípios com ICMS e ISS pode ultrapassar os R$ 100 bilhões. "Não temos espaço para isso no orçamento. Não é que se vire o chefe do Executivo. Se aqui nós quebrarmos, quebra o Brasil. Os Estados estão muito mal das pernas. Falta humildade para essas pessoas que estão bloqueando tudo de forma radical. Humildade, voltar atrás em alguma coisa, abrir alguma coisa, logicamente com o devido cuidado, luva, máscaras, gel, seja o que for, campanha educativa", completou.

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Bolsonaro afirmou ainda que 70% das pessoas serão contaminadas com o vírus, independente das medidas restritivas. "Se não for hoje, vai ser semana que vem ou mês que vem. É uma realidade. Devemos é cuidar dos mais idosos e os que têm problema de saúde. Os demais, cuidar também, mas saber que tem que trabalhar. O País não vai para frente, vamos perder muito. Vai complicar a vida de muita gente", disse.

O presidente ainda voltou a afirmar que não temos que nos acovardar com o vírus. "Lógico, tem que tomar cuidado, mas vamos enfrentar de cabeça erguida. Isso vai passar e temos tudo para voltar à normalidade. Repito: não depende de mim abrir o comércio. Se dependesse de mim, muito mais coisa estaria funcionando."

O presidente Jair Bolsonaro compra sorvete na Praca dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Nesta semana, o Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca de 200 novas mortes diárias. Neste sábado, o Ministério da Saúde registrou 211 mortes decorrentes do novo coronavírus nas últimas 24 horas. Com isso, o número de óbitos por covid-19 chegou a 2.347. Os casos atualmente confirmados somam 36.599.

Segundo Bolsonaro, há governantes espalhando “pavor e pânico” sobre a população e afirmou que tem ouvido das pessoas pedidos de volta à “normalidade”. “A voracidade de alguns políticos fechando tudo por aí, alguns até prendendo, é um ato abominável”, disse, citando a prisão de uma senhora em Araraquara (SP). 

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O presidente falou também que não possui dados em mãos, mas que milhões perderão os empregos formais ou informais. “Estamos em uma situação complicada. Será que esse pessoal não vai entender? Não consegue parar de me atacar, chamar de genocida? Não vai entender que o que vai matar as pessoas para valer são as consequências do desemprego? Quem está tomando essas decisões de bloqueio total não vê que, com essa queda de arrecadação, vai faltar dinheiro para pagar funcionalismo público?”

Bolsonaro ainda disse que desemprego causa mais violência, aumentando o trabalho da Polícia Militar. Segundo ele, o Brasil está mergulhando em um “caos” e disse querer crer que não é pela vontade “desses políticos”. “Não vão conseguir me tirar daqui.”

Apoiadores aguardam Bolsonaro descer a rampa do Palácio do Planalto. Foto: Sergio Lima/AFP

Encontro com Braga Netto

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Ele também falou que já era conhecido que o vírus iria infectar 70% da população, além de manifestar que “essa imprensa só promove o caos”. Depois, o presidente desceu a rampa do Palácio do Planalto e conversou, separado pela grade e com alguns metros de distância, com um grupo que estava fazendo um protesto contra o aborto. Ele recebeu um quadro de Jesus e uma bandeira que dizia “Brasil Vivo Sem Aborto” e os levantou no ar.

Do Planalto, Bolsonaro seguiu para o Setor Militar Urbano (SMU) de Brasília, onde encontrou com o ministro da Casa Civil, Braga Netto. Os dois conversaram por alguns minutos reservadamente. Diferente de outras ocasiões, Bolsonaro não cumprimentou as pessoas com apertos de mãos e evitou contato com apoiadores que se aproximaram para tirar fotos. 

O presidente ainda desceu no meio da Praça dos Três Poderes. Bolsonaro comprou um picolé de um vendedor e posou para mais fotos. Ao chegar no Alvorada, Bolsonaro evitou a imprensa e falou apenas com populares. Questionado sobre a sua relação com Maia, Bolsonaro desconversou e disse que mantinha um relacionamento apenas com a “Dona Michelle”, em referência a primeira-dama.

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