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'Não podemos vender a soberania da região', diz Morales

'Pensar que a presença militar dos EUA na Colômbia vai melhorar o combate ao terrorismo é um engano', afirmou

Por Marina Guimarães e Reuters
Atualização:

Foto: Reuters

 

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SAN CARLOS DE BARILOCHE, Argentina - O presidente da Bolívia, Evo Morales, engrossou o coro dos presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) contrários à instalação de bases norte-americanas na Colômbia. "Não podemos permitir uma presença militar estrangeira em nosso território, é um mandato que nos dão nossos povos. É uma presença política e militar para controlar os demais países da região", afirmou Morales, em discurso na reunião extraordinária da Unasul que se realiza na cidade argentina de Bariloche nesta sexta-feira, 28.

 

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"Essas bases tratam de gerar desconfiança entre nós. Não podemos vender a soberania de nossa região", disse Morales, em referência ao acordo entre os EUA e a Colômbia para a expansão militar norte-americana em sete bases colombianas. "Pensar que a presença militar dos EUA na Colômbia vai melhorar o combate ao terrorismo é um engano", ressaltou. Morales disse ainda que "Estados Unidos não tem por que cooperar com a luta contra o narcotráfico na Bolívia nem em nenhum lugar da América Latina".

 

Morales advertiu que não assinará "nenhum documento" que não expresse uma rejeição da União de Nações Sul-Americana (Unasul) à presença de bases militares estrangeiras na região. "Sinceramente digo que é impossível que eu assine um documento que não diga que 'rejeitamos as bases estrangeiras na América do Sul'", ressaltou.

 

O governante boliviano reiterou sua proposta de convocar um plebiscito para que a população sul-americana, que, segundo sua opinião, "é antiimperialista", se pronuncie sobre a presença militar estrangeira na região. "Não há porque ter medo de nossos povos. Seria histórico. Certamente vamos consultar nossos povos", disse.

 

O presidente do Peru, Alan Garcia, por sua vez, opinou que a cúpula em Bariloche "é uma boa oportunidade para a reflexão dos países sobre como avançar na questão militar, que é a especialidade de Chávez". Garcia fez brincadeiras e ironias com o presidente venezuelano, Hugo Chávez. "Ele nos surpreendeu hoje dizendo que o perigo é que os Estados Unidos conquistem o petróleo, mas ele vende todo o petróleo para os Estados Unidos."

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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que acordo entre Colômbia e EUA planta uma "semente de guerra" e pediu que a região avalie a parceria. Ele também propôs que os presidentes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) formem uma comissão para estudar "uma iniciativa de paz" para a Colômbia e ressaltou o compromisso de seu país com o processo de integração. "Propomos que a Unasul nomeie uma comissão que, apesar de sabermos que a situação não é fácil, comece a visualizar o que pudéssemos chamar de uma iniciativa de paz para a Colômbia", disse Chávez, durante um de seus discursos na cúpula extraordinária da Unasul, em Bariloche.

 

O líder venezuelano discursou na reunião após escutar as críticas do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, que acusou seu Governo de fazer "apologia" a dirigentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ressaltou que o relatório militar sobre os Estados Unidos apresentado hoje por Chávez não é um documento público.

 

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, respondeu com contundência ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, o mais crítico ao acordo militar, que, nos últimos dias, tinha advertido que "ventos de guerra" corriam na região.

 

Uribe também rejeitou que a Unasul convoque o líder dos Estados Unidos, Barack Obama, para falar sobre o acordo militar entre Bogotá e Washington, e negou que o país faça "jogos de hipotéticas guerras com seus vizinhos". "Não acho que devemos chamar para prestar contas o presidente Obama", afirmou Uribe durante discurso no qual respondeu às duras críticas feitas pelo governante equatoriano, Rafael Correa, que preside este semestre a Unasul, e aos questionamentos de outros líderes do bloco sobre seu pacto com os Estados Unidos.

 

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O líder colombiano destacou que o relatório militar dos Estados Unidos apresentado hoje na cúpula por Chávez não é uma revelação, mas é "público", e acusou o venezuelano de ameaçar verbalmente a Colômbia. "Em várias ocasiões o presidente Hugo Chávez expressou que a qualquer momento pega os aviões e que em poucos minutos está na Colômbia. Sofremos permanentes ameaças verbais. Nós jamais fizemos uma ameaça verbal ou de fato", disse Uribe na cúpula extraordinária da Unasul realizada hoje em Bariloche, na Argentina.

 

Os Estados Unidos asseguraram que o documento apresentado hoje pelo presidente da Venezuela, Hugo

Chávez, na cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul) é um relatório da Força Aérea sobre planos de emergência e ajuda humanitária e que, em nenhum caso, contém estratégias do país.

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"Não é um plano estratégico, nem de políticas", disse hoje à Agência Efe um porta-voz do Departamento de Estado, em referência ao documento que, segundo Chávez, revela as intenções americanas de

estabelecer uma base para operações antidroga e de "mobilidade" na América do Sul.

 

Uribe assegurou também que na Venezuela estão dois chefes guerrilheiros: "Ivan Márquez" e "Timochenko", apelido de Luciano Marín Arango e Rodrigo Londoño, respectivamente. "Rejeitamos a intervenção política que se quer ter na Colômbia", afirmou Uribe.

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixou amargamente diante de seus colegas da Unasul pela extensão e pela transmissão ao vivo na TV de uma cúpula onde se discutiu um convênio militar entre Estados Unidos e Colômbia. "Não temos o direito de passar um dia inteiro discutindo", disse Lula, visivelmente irritado com a reiteração dos discursos após mais de seis horas de deliberações encabeçadas pelos presidentes da União Sul-Americana de Nações (Unasul).

 

O presidente brasileiro criticou seu colega do Equador, Rafael Correa, por achar que este não coordenou adequadamente a reunião. Correa ocupa a presidência rotativa do organismo, que está reunida na cidade argentina de Bariloche. A intervenção destemperada de Lula ocorreu quando Correa pediu o quarto intervalo para que os chanceleres terminassem de elaborar um documento e concluir o encontro.

 

Os chanceleres da Unasul elaboravam um documento que permitisse concluir a cúpula com algum tipo de entendimento, em meio à crise política provocada pelo acordo que permitirá aos Estados Unidos usar bases militares colombianas para combater o narcotráfico.

 

Para a presidente do Chile, Michelle Bachelet, o tom das discussões da cúpula da Unasul é adequado. "Me preocupava o grau do tom que seria usado; apesar do tema delicado, me parece importante sermos capazes de desfazer tensões e me parece importante também mantermos a integração", disse ela. Porém, continuou, "creio que necessitamos ser capazes de adotar uma visão comum e integrar a agenda de segurança de nossas nações". Embora não tenha se manifestado claramente contra a instalação das bases norte-americanas na Colômbia, Bachelet opinou que o combate ao narcotráfico deve ser uma tarefa da polícia e não dos militares.

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O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, por sua vez, disse que seu país "rejeita, historicamente, há 200 anos, a instalação de bases militares estrangeiras" em seu território. "Tampouco achamos que devam existir em algum dos nossos países da América do Sul."

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