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''Não pode pôr nada debaixo do tapete''

Raul Jungmann (PPS-PE): deputado; autor do projeto que cria corregedoria independente da Mesa, ele diz que posto deve ser indicação do presidente

Por Ana Paula Scinocca e Brasília
Atualização:

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) é o autor do projeto de resolução que será votado amanhã e pretende mudar o regimento interno da Casa, criando uma corregedoria autônoma e independente da Mesa Diretora. Com a aprovação do projeto de resolução de Jungmann, que será apreciado pelo plenário depois da votação da MP das Filantrópicas, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), vai nomear o novo corregedor da Casa. Em entrevista ao Estado, Jungmann afirmou que as denúncias contra Moreira trouxeram prejuízo para a imagem da Câmara. Para ele, nada pode ser colocado "embaixo do tapete". O deputado disse ser contra proposta de transferir para o Judiciário a análise dos casos de perda de mandato. A seguir, os principais trechos da entrevista. O senhor tem defendido a tese de que a Corregedoria da Câmara deixe de ser vinculada à segunda vice-presidência da Câmara e já trabalha em projeto de resolução para isso. O que o motivou? Em primeiro lugar, a Câmara, ao contrário do Senado, não tem corregedoria com estrutura, autonomia e independência que zele pelo regime disciplinar dos deputados. Em segundo lugar, eu defendo a tese de que o corregedor seja indicado pelo presidente da Casa, que o fará aos olhos da opinião pública e comprometido com a ética. E é assim que eu acredito que o presidente Michel Temer vai fazer. A ideia é que o corregedor tenha um mandato, de dois anos, e fora da Mesa Diretora. Ele poderia ser retirado apenas pelo plenário e seria uma maneira de evitar que eventuais maiorias corporativas bloqueiem as ações disciplinares e punitivas quando elas forem necessárias. O cargo do corregedor deve ser inegociável e uma prerrogativa do presidente. Como se trata de um projeto de resolução, precisa passar pelo plenário. Eu já conversei com o presidente Temer e ele disse que concorda. Logo que tomou posse no cargo, vieram à tona irregularidades envolvendo o deputado Edmar Moreira. Como o senhor viu esse problema? Vi como prejuízo duplo para a imagem da Casa e da Mesa. Eu fiquei preocupado. A Mesa Diretora é a face da Câmara e a atual será em um momento de sucessão presidencial. Assim que fui informado dos acontecimentos envolvendo o novo corregedor eu procurei os líderes e falei com os deputados. A deterioração, a meu ver, tem de ser estancada agora ou se torna irreversível. Além da criação de uma corregedoria independente da Mesa eu defendo a reforma do Conselho de Ética, o voto aberto em plenário e a transparência na prestação de contas dos deputados e senadores. O ex-corregedor falava em ?vício da amizade? e defendia a ideia de que deputados envolvidos em irregularidades deixassem de ter seus mandatos julgados por seus pares na Casa. Que acha disso? Eu discordo. Se assim fosse, um juiz não poderia julgar um juiz nem um desembargador poderia julgar um desembargador. Na esfera pública, as relações privadas e ou de amizade ficam de fora. A coisa pública é regida por normas impessoais. Que providências os deputados devem tomar frente aos últimos acontecimentos? Essa é uma questão para a Casa decidir e resolver. Mas a Câmara não pode colocar nada embaixo do tapete.

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