‘Não nasci senador e não vou morrer senador’, diz Delcídio

Declaração foi feita a aliados que o visitaram na prisão; ele disse que Rui Falcão, o STF eo Senado erraram

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Por Erich Decat , Adriano Ceolin e BRASÍLIA
Atualização:
  Foto: Jefferson Rudy | DIV

Preso na sede da Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) recebeu na terça-feira, 1, a visita de políticos e parlamentares do Mato Grosso do Sul, seu reduto eleitoral. Nas conversas, avaliou que dificilmente conseguirá manter seu mandato após instaurado processo de quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado. “Não nasci senador e não vou morrer senador. Cumpri meu papel”, disse o petista, conforme relato do presidente estadual do PT em MS, Antônio Carlos Biffi.

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As regras sobre os procedimentos de visitas ao parlamentar foram estabelecidas ontem, um dia após o encontro com os “aliados”. De acordo com portaria da Polícia Federal, o senador está autorizado a receber pessoas nos horários de 10h às 11h ou de 15h às 16h. Na prática, essa autorização já vinha sendo adotada desde que Delcídio foi preso na quarta-feira passada, sob a acusação de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Contudo, devido à falta de definição por parte do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal resolveu emitir um documento oficial sobre o assunto. “Ele está bem ciente das dificuldades que vai enfrentar. Mas, para ele, a filiação partidária e o mandato são coisas menores. O foco dele é em explicar a armação que foi feita”, afirmou Biffi.

Além dele, também estiveram presentes ao encontro, que durou cerca de uma hora, os deputados federais Vander Loubet (PT-MS), Zeca do PT (PT-MS) e Dagoberto (PDT-MS), além do prefeito de Jardim, Erney Cunha (PT). “Ele acha muito difícil permanecer no mandato. É um sentimento normal”.

A reunião ocorreu no mesmo dia em que os partidos Rede Sustentabilidade e PPS apresentaram ao Conselho de Ética do Senado pedido de investigação contra Delcídio. A iniciativa pode resultar na cassação do mandato do senador. A situação do parlamentar deve ser resolvida no colegiado, porém, apenas no próximo ano.

“O ano legislativo acaba no dia 22 e, se não me falha a memória, só o prazo para o Delcídio se defender é de 10 a 15 dias. Tivemos vários processos anteriores. Nenhum casos foi decidido com menos de 60 dias”, ressaltou o presidente do Conselho de Ética, senador João Alberto (PMDB-MA).

Ligado ao ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ele foi um dos que votaram pela liberação de Delcídio em sessão realizada no plenário do Senado na quinta-feira passada. “Eu não votei pela permanência dele na prisão. Não achei que era flagrante. E também achava que ele deveria ter tido o contraditório. Não significa que eu não possa mudar minha opinião no andar do processo”, ressaltou.

Expulsão. No encontro com lideranças políticas do Mato Grosso do Sul, Delcídio também minimizou a possibilidade de ser expulso do PT, medida defendida publicamente pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão. “Acho que o Rui errou, como errou o Supremo, como errou o Senado. Para mim tanto faz como tanto fez, se ele vai me expulsar ou não”, afirmou Delcídio, segundo Biffi. A Executiva Nacional do PT agendou para amanhã um encontro em que deve apresentar um pedido de suspensão e iniciar o processo de expulsão do parlamentar.

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Segundo Biffi, apesar de os advogados estarem trabalhando para que o senador seja solto, Delcídio também considera que a liberação não ocorrerá “da noite para o dia”. “Dentro da serenidade dele, ele tem claro, até por todos os abusos que foram cometidos pelo Supremo e o fato de o Senado concordar, que não é uma coisa fácil, até por ser o primeiro. Ele entende que há uma confusão muito grande e que, por isso, não se resolve da noite para o dia. Mas os advogados estão trabalhando”, afirmou o dirigente.

Defesa. Na semana passada, a defesa do senador reagiu à ordem do Supremo. Os advogados do líder do governo no Senado questionaram a “imposição de prisão a um senador da República que sequer possui acusação formal contra si”. “A Constituição não autoriza prisão processual de detentor de mandato parlamentar e há de ser respeitada como esteio do Estado Democrático de Direito”, argumentaram os advogados Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho e Maurício Silva Leite. Eles protestaram, ainda, contra o fato de que “as imputações partiram de um delator já condenado” – Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás – condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

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