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Na ONU, Lula critica falta de determinação contra terror e fome

Para platéia da 61.ª Assembléia-Geral das Nações Unidas, presidente disse que a fome "alimenta a violência e o fanatismo"

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou ontem o tom das cobranças aos países ricos, especialmente aos Estados Unidos, ao discursar na abertura dos debates da 61.ª Assembléia-Geral das Nações Unidas. Em15 minutos de discurso, Lula criticou a falta de "determinação política" dos países desenvolvidos para derrotar o terrorismo, construir o caminho da paz e combater a fome. Mais: disse que, se a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) não for destravada, com o fim dos milionários subsídos agrícolas que penalizam os mais pobres, o mundo estará condenado a guerras. "Se a Rodada Doha fracassar, as conseqüências serão sentidas muito além da esfera comercial. Males como o crime organizado, o narcotráfico e o terrorismo encontrarão terreno fértil para prosperar", afirmou Lula. Ao pregar o fim das "amarras do protecionismo", insistiu que os subsídios agrícolas dos países ricos são "pesados grilhões" que levam os pobres ao atraso. "Não me canso de repetir que, enquanto o apoio distorsivo nos países desenvolvidos alcança a indecorosa soma de US$ 1 bilhão por dia, 900 milhões de pessoas sobrevivem com menos de US$ 1 por dia nos países pobres e em desenvolvimento". Lula insistiu em que a fome "alimenta a violência e o fanatismo" e, ao abordar os conflitos no Oriente Médio, foi taxativo: disse que a ONU enfrenta uma "erosão" de credibilidade. Advogado do multilateralismo, mais uma vez defendeu a reforma no Conselho de Segurança, com assentos permanentes para o Brasil e outros países em desenvolvimento. Mesmo sem citar nominalmente o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, Lula fez várias referências à guerra ao terror imposta por ele ao mundo no seu pronunciamento. "Conflitos entre nações não se resolvem apenas com dinheiro e armas", constatou, numa estocada ao colega norte-americano. Diante de uma platéia formada por 192 representantes, o presidente brasileiro conclamou todos a compararem os custos das guerras e dos conflitos com os US$ 50 bilhões necessários como suporte adicional, por ano, para o cumprimento das Metas do Milênio e redução da pobreza até 2015. "Todos aqui sabem que a segunda Guerra do Golfo custou várias centenas de bilhões de dólares", provocou Lula, numa alusão à investida dos Estados Unidos contra o Iraque. O presidente também não poupou os europeus. "Pensem, por exemplo, nas centenas de bilhões de dólares que foram investidos para levar adiante a plena integração dos países do Leste à União Européia", pediu. Condoleezza Rice, secretária de Estado norte-americano, chegou atrasada à Assembléia-Geral e perdeu o início do discurso de Lula, o primeiro orador na imensa lista de chefes de Estado e de governo, já que, por tradição, o Brasil sempre abre os debates da ONU. Mesmo assim, Condoleezza entrou no imponente plenário de carpete verde a tempo de ouvir as cobranças de Lula aos EUA. Com a voz mais rouca do que de costume, o presidente afirmou que o caminho da paz somente se constrói com o desenvolvimento compartilhado. Com esse argumento, sugeriu que a ONU convoque uma reunião com a participação dos países do Oriente Médio para a solução dos conflitos. "Não seria o momento de convocar uma ampla conferência, sob a égide das Nações Unidas, com a participação de países da região e outros que poderiam contribuir pela capacidade e experiência em conviver pacificamente com as diferenças?", perguntou.

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